Como um herói do século atual ele não usa capa e muito menos conta com super poderes, mas há vinte e um anos vem conseguindo apenas usando uma bola de basquetebol fazer o que nem mesmo o governo foi capaz.
Com essa frase da reportagem “Projeto Basquete” exibida há onze anos, que o “Projeto Clube Amigos do Basquetebol” deixaria o anonimato da pequena, Guajará-Mirim, em Rondônia para ser reconhecido pelos grandes nomes do basquetebol brasileiro. “Participar desse projeto que ganhou uma notoriedade imensa por conta da reportagem é uma honra”, comenta o estudante, João Vitor.
Miguel Ângelo da Luz, ex-técnico da Seleção Brasileira de Basquetebol Feminino manifestou o conhecimento pelo projeto com um compromisso de visitá-lo.
“Penso um dia visitar Guajará-Mirim para conhecer o Projeto Clube Amigos do Basquetebol. Quero compartilhar alguma coisa com essa garotada”, disse o técnico campeão brasileiro.
Quem também é fã e compartilha do mesmo pensamento em relação ao projeto e inclusive já demonstrou a sua grande paixão pela ideia é ex-jogadora Olímpica, Hortência.
Desviar jovens das drogas, principalmente da cocaína. O lema ainda continua sendo o princípio e os ideais da bandeira levantada pelo “Clube Amigos do Basquetebol”. A Organização Não Governamental fundada há 21 anos pelo técnico administrativo, Jesus de Oliveira Brasil já recebeu mais de 3 mil jovens.
“Não me coloco como herói e tão pouco sou. Eu apenas escolhi seguir um caminho que é o da teimosia. É por esse caminho que ando todos os dias”, evidencia, Jesus.
Mesmo arredio aos elogios é inegável que o servidor público tem uma legião de admiradores, mas que isso, de filhos espalhados pelo Brasil. Frutos que começaram a surgir do propósito dele em cuidar do próximo em 1997. A estudante Joiciane de 13 anos está no CAB a pouco mais de um ano. A chegada dela ao projeto tem trazido resultado nas notas escolares e na convivência com a família que melhorou bastante.
“Amo e tenho o Jesus de Oliveira Brasil com um pai. Nunca tinha dito isso a ele pessoalmente. Hoje estou reconhecendo na presença dele tudo que faz e tem feito por nós”, elogia a estudante.
E de mãos em mãos a bola de basquete impulsiona os jovens a ultrapassar obstáculos, outro principio do clube. Ao longo de vinte e um anos de história, o CAB enumera um pavilhão de vitórias, mas como em qualquer família existem as perdas.
“O que mais me magoa como pessoa é chegar ao projeto durante os dias da semana e eu da boa noite e um deles (jovens) relatar que ainda não comeu nada porque simplesmente não tem o que comer em casa. Eu vou abaixo. Todos os dias os relatos se confundem. Em casa são as brigas de pai e mãe, a convivência com a família, os relacionamentos. São esses os problemas que eu me deparo e são esses os problemas que o basquete também busca resolver”, revela.
“Culpo-me bastante. Tem um caso de um rapaz que cometeu suicídio há seis meses. Eu cheguei a procurá-lo.Queria que ele participasse conosco do Clube. Nesse dia que ele tirou a vida eu ainda fui a casa dele, mas cheguei quatro horas atrasado”, lamenta.
Na quadra do Jesus, na Escola Irmã Maria Celeste a vida brota todos os dias. O “manuelzinho” de 6 anos faz parte da nova geração do Clube.
Embaixo de um temporal o “mauezinho” chegou montado numa bicicleta maior que ele mesmo. Veio até a mim e perguntou: “o senhor me ensina a jogar basquete. Na primeira jogada o menino fez uma cesta, depois a segunda e a terceira. Fiquei impressionado. Achei bárbaro”, comenta o servidor público ao descrever a sua nova aposta.
Dados da Polícia local, afirma que pelo menos 80% dos jovens da região de Guajará-Mirim já fizeram uso de cocaína. O grande vilão desta história mora ao lado, a Bolívia, país considerado pelas Organização das Nações Unidas (ONU) como terceiro produtor de cocaína do planeta.
“Ao levantar pela manhã eu fico pensando, qual será o inimigo que eu terei que enfrentar. Se é o traficante de drogas, a própria droga, ou se são os descuidos das autoridades e das pessoas que não estão nem ai para o próximo”, ressalta o servidor, Jesus de Oliveira Brasil em mais uma noite de encontro CAB.
As horas na cidade conhecida como á “Perola do Mamoré” já passam das dez horas da noite. O horário para o Clube Amigos do Basquetebol é fundamental. “Cansados do treino é certo de que os jovens irão para as suas casas, estando desta forma longe das más companhias. Ou seja, eu venci mais uma vez, eu venci mais uma noite. Tenho comigo a sensação de dever cumprido. Agora vou descansar e me preparar para mais uma batalha no dia que se aproxima”, despede-se Jesus.