A frágil trégua em Gaza foi marcada por uma nova escalada de tensões, com Israel ameaçando reduzir a ajuda humanitária após o Hamas atrasar a entrega de corpos de reféns mortos. O Hamas, por sua vez, só transferiu mais quatro corpos de cativos depois da ameaça israelense e da declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, que prometeu violência para desarmar o grupo militante palestino caso ele não o faça por conta própria.
Israel comunicou à Organização das Nações Unidas que permitiria apenas metade do número diário de caminhões de ajuda acertado no acordo de cessar-fogo da semana passada. Segundo autoridades israelenses, a restrição foi imposta porque o Hamas violou o acordo ao não entregar os corpos de reféns capturados no ataque a Israel em outubro de 2023.
Transferência de corpos e o papel de Trump
Horas após a ameaça, o Hamas informou aos mediadores que entregaria quatro corpos, o que foi posteriormente confirmado pelos militares israelenses, que receberam os restos mortais por meio da Cruz Vermelha. Antes dessa nova entrega, o Hamas havia devolvido apenas quatro caixões, deixando pelo menos 23 corpos de reféns supostamente mortos e um desaparecido ainda em Gaza.
O presidente Donald Trump, após retornar de sua viagem ao Oriente Médio, deu declarações contundentes. Além de dar seu aval para o Hamas reafirmar algum controle temporário de Gaza, o presidente ameaçou o grupo militante com violência. “Se eles não se desarmarem, nós os desarmaremos. E isso acontecerá rapidamente e talvez de forma violenta”, disse Trump.
Hamas reafirma controle e executa homens nas ruas
Desde a retirada parcial das tropas israelenses na semana passada, combatentes do Hamas voltaram a ocupar as ruas das áreas urbanas de Gaza, reafirmando seu controle. Fontes do grupo confirmaram que, em vídeo que circulou nesta terça-feira, combatentes do Hamas executaram sete homens na Cidade de Gaza, acusando-os de serem colaboradores, saqueadores armados ou traficantes de drogas.
O Hamas acusou Israel de também violar o cessar-fogo, alegando que o exército israelense estava matando pessoas em Gaza. Os militares israelenses, por sua vez, disseram ter disparado contra indivíduos que cruzaram as linhas de trégua e se aproximaram das forças, ignorando os pedidos para que recuassem.
Obstáculos à paz permanente e crise humanitária
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insiste que a guerra não pode terminar até que o Hamas entregue suas armas e ceda o controle de Gaza, uma exigência rejeitada pelos militantes.
Apesar dos esforços de desobstrução de vias e reparo de infraestrutura pelo Hamas, a crise humanitária em Gaza é severa. A fome atinge mais de meio milhão de palestinos, e a entrega de ajuda humanitária ainda não atinge o ritmo de centenas de caminhões diários previstos. A cúpula co-organizada por Trump no Egito terminou sem progressos públicos significativos para a criação de uma força militar internacional ou um novo órgão de governo para Gaza.
O conflito, desencadeado pelo ataque do Hamas em outubro de 2023, deixou grande parte do enclave em ruínas. As autoridades de saúde de Gaza estimam que pelo menos 67.000 pessoas foram mortas nos dois anos de guerra devastadora.