Enquanto Israel e o Hamas apresentam números conflitantes sobre a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, a Organização das Nações Unidas (ONU) sedia uma cúpula em Nova York para relançar a solução de dois estados para Israel e Palestina. A região de Gaza, devastada por quase 22 meses de guerra, enfrenta níveis alarmantes de desnutrição.
Israel, através do Cogat, órgão do Ministério da Defesa, anunciou nesta segunda-feira (28) que 120 caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza no domingo (27) e que a carga foi distribuída pela ONU e organizações humanitárias. Em contraste, o governo do grupo extremista palestino Hamas alega que apenas 73 caminhões conseguiram entrar, e a maioria teria sido saqueada sob o olhar de drones israelenses, impedindo a chegada aos centros de distribuição.
O Hamas também contestou a eficácia dos lançamentos aéreos de ajuda, afirmando que representaram o equivalente a apenas dois caminhões e que os mantimentos caíram em áreas de combate, inacessíveis aos civis. Ontem, Israel declarou uma pausa diária nos combates, das 10h às 20h (horário local), em Al-Mawasi, Deir al-Balah e na cidade de Gaza, com o objetivo de “refutar a alegação falsa de fome deliberada”.
Também nesta segunda-feira, em videoconferência na Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares na Etiópia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, reiterou que “a fome nunca deve ser usada como arma de guerra”, referindo-se aos conflitos em Gaza e no Sudão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para os “níveis alarmantes” de subnutrição em Gaza, com o “bloqueio deliberado” da ajuda humanitária custando vidas. Dos 74 óbitos relacionados à desnutrição este ano, 63 ocorreram em julho, incluindo 24 crianças com menos de cinco anos.
A sede da ONU em Nova York recebe, a partir desta segunda-feira, uma conferência internacional dedicada à questão palestina, co-presidida por França e Arábia Saudita. O encontro visa relançar a proposta de uma solução de dois estados – Palestina e Israel –, buscando definir um roteiro para um estado palestino que garanta a segurança de Israel.
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noel Barrot, indicou que a França pretende reconhecer um estado palestino em setembro, durante a reunião anual da Assembleia Geral da ONU, em 21 de setembro, e que pressionará outros países a seguirem o mesmo caminho. No entanto, os Estados Unidos e Israel não participarão da conferência. Um porta-voz do Departamento de Estado americano classificou a reunião como “um presente para o Hamas”, enquanto Israel alegou que a conferência “não aborda com urgência a questão de condenar o Hamas e devolver todos os reféns”.
A ONU tem um papel histórico na questão palestina desde a divisão em 1947, que previa a criação de um estado judeu e outro árabe. Em maio de 2024, a Assembleia Geral da ONU apoiou esmagadoramente a candidatura palestina para membro pleno da organização, com 143 votos a favor, embora os EUA tenham vetado a proposta no Conselho de Segurança. A Resolução 242 do Conselho de Segurança, de 1967, estabelece as bases para uma paz justa, mas com ambiguidades. Desde 1970, os EUA utilizaram seu veto cerca de 40 vezes no Conselho de Segurança para proteger Israel.
O conflito atual teve início em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas atacou o sul de Israel, resultando em 1,2 mil mortes e cerca de 250 reféns. A campanha militar de Israel matou quase 60 mil palestinos, segundo autoridades de saúde de Gaza.