O mês de junho de 2025 foi marcado por duas ondas de calor “excepcionais” na Europa. Entre os dias 17 e 22 de junho, e novamente a partir de 30 de junho, as temperaturas consistentemente ultrapassaram 40 graus Celsius (°C) em diversas nações, atingindo picos de 46°C em países como Espanha e Portugal.
Segundo o Serviço de Monitoramento das Alterações Climáticas da União Europeia, Copernicus, o dia 30 de junho foi “um dos dias de verão mais quentes de que se tem registro” no continente. Na mesma data, a sensação térmica ao norte de Lisboa alcançou 48°C, configurando um “stress térmico extremo”, conforme comunicado do Copernicus.
As conclusões preliminares de um estudo colaborativo, que incluiu o Instituto Grantham do Imperial College de Londres, revelam que as ondas de calor triplicaram o número de mortes em junho na Europa. Cientistas descreveram a onda de calor no final de junho como “silenciosamente devastadora”.
O Impacto das Altas Temperaturas: Cidades Mais Afetadas
Análises preliminares das temperaturas em 12 cidades europeias indicam que o calor causou um total de 2,3 mil mortes. Pesquisadores alertam que este número, registrado em uma única onda de calor, pode tornar este verão o mais perigoso dos últimos tempos.
Entre 23 de junho e 2 de julho, período de temperaturas elevadas por toda a Europa, Milão registrou o maior número de óbitos relacionados ao calor, com 317. Em seguida, figuraram Paris, Barcelona e Londres. Em Lisboa, 21 pessoas perderam a vida durante este período.
A mortalidade foi predominantemente alta entre indivíduos com mais de 65 anos, faixa etária na qual 88% das mortes foram atribuídas ao clima. Os autores do estudo enfatizam que o calor extremo é uma ameaça “subestimada”, pois a maioria das vítimas falece em ambientes privados, como casas e hospitais, longe do escrutínio público.
Ben Clarke, climatologista do Imperial College de Londres e coautor da pesquisa, ressaltou que “as ondas de calor não deixam um rastro de destruição como acontece com incêndios florestais ou tempestades”, mas, ironicamente, estão ceifando mais vidas do que as cheias. “Os impactos são, na maioria das vezes, invisíveis, mas silenciosamente devastadores. Uma mudança de apenas 2°C ou 3°C pode significar a diferença entre a vida e a morte para milhares de pessoas”, alertou.
Calor Extremo se Espalha Globalmente e Afeta Oceanos
Além da Europa, junho também testemunhou um aumento significativo nas perigosas “noites tropicais”, onde as temperaturas noturnas permanecem acima de 20°C, conforme o Copernicus. Cálculos da agência France-Presse, baseados em dados do Copernicus, indicam que 12 países e aproximadamente 790 milhões de pessoas em todo o mundo experimentaram o junho mais quente já registrado. Entre esses países, destacam-se Japão, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Paquistão e Tajiquistão.
A climatologista do Copernicus, Samantha Burgess, emitiu um alerta: “As ondas de calor vão ser mais frequentes, mais intensas e vão atingir cada vez mais pessoas na Europa.”
No Mediterrâneo ocidental, a onda de calor no mar foi igualmente “excepcional”. O Copernicus reportou que a temperatura média diária da superfície do mar atingiu níveis recordes na região. Em 30 de junho, a temperatura média da superfície do Mediterrâneo disparou para 27°C. Temperaturas elevadas nos oceanos desequilibram os ecossistemas marinhos, impactando a vida dos peixes e provocando a morte de plantas essenciais para a cadeia alimentar.