Os Emirados Árabes Unidos anunciaram nesta quarta-feira (21) ter chegado a acordo com Israel para permitir a entrega de ajuda humanitária urgente à Faixa de Gaza.
A falta de mantimentos é tanta que, nesta terça-feira (20), a Organização das Nações Unidas alertou que 14 mil bebês poderiam morrer de fome no enclave, nas próximas 48 horas.
No mesmo dia, o governo britânico anunciou a suspensão das negociações sobre comércio com Israel e convocou o embaixador israelense em Londres em desagravo diante do bloqueio da ajuda humanitária.
Enquanto isso, os ataques israelenses continuam sem dar tréguas, mesmo depois de o Reino Unido ter decidido suspender as negociações comerciais com Telaviv. A União Europeia anunciou que também vai rever os laços políticos e econômicos com Israel.
O chefe da diplomacia dos Emirados Árabes, Abdallah ben Zayed Al-Nahyane, “falou por telefone com Gideon Saar, ministro israelense dos Negócios Estrangeiros, o que levou a um acordo que autoriza a entrega de ajuda humanitária urgente a partir dos Emirados Árabes Unidos”, diz um comunicado publicado pela agência de notícias emiradense WAM.
“A ajuda irá inicialmente satisfazer as necessidades alimentares de cerca de 15 mil civis na Faixa de Gaza”, adianta.
A notícia surge no momento em que Israel tem sido acusado de cometer genocídio em Gaza e de realizar uma operação de limpeza étnica, especificamente por não deixar entrar ajuda humanitária no território.
Retomada limitada
No início da semana, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel tinha de evitar a fome em Gaza “por razões diplomáticas” e anunciou uma retomada limitada de ajuda ao território palestino.
O líder israelense acrescentou que as “imagens de fome em massa” poderiam prejudicar a legitimidade do esforço de guerra de Israel, e anunciou que autorizou a entrada de 93 caminhões da ONU. Desses, porém, apenas poucas dezenas entraram, de acordo com as Nações Unidas.
Mesmo diante da escassa entrada de ajuda em Gaza, a ofensiva israelense continua. Segundo as autoridades de saúde palestinas, os ataques aéreos de Israel na última noite mataram 85 pessoas.
O Exército israelense explicou que tinha como alvo um centro de comando do Hamas e garantiu que tinha alertado os civis com antecedência.
Rever laços
Entretanto, na noite de terça-feira a União Europeia informou que irá rever o pacto que rege os seus laços políticos e econômicos com Israel devido à situação “catastrófica” em Gaza. Essa revisão vai permitir saber se Israel está cumprindo uma cláusula de Direitos Humanos do acordo.
A alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, afirmou que a maioria dos ministros reunidos em Bruxelas se mostrou favorável a uma revisão do acordo, à luz dos acontecimentos em Gaza.
“A situação em Gaza é catastrófica. A ajuda que Israel autorizou a entrar é, naturalmente, bem-vinda, mas é uma gota no oceano. A ajuda deve fluir imediatamente, sem obstruções e em grande escala, porque é isso que é necessário”, disse Kallas aos jornalistas.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel rejeitou as críticas de Bruxelas: “rejeitamos completamente a direção tomada na declaração [de Kallas], que reflete uma total incompreensão da complexa realidade que Israel enfrenta”, escreveu o ministério na rede social X.
“Ignorar estas realidades e criticar Israel apenas endurece a posição do Hamas e encoraja o Hamas a manter as suas armas”, acrescentou, agradecendo aos países que apoiaram Israel na reunião em Bruxelas.
“Apelamos à UE para que exerça pressão onde ela deve ser exercida: sobre o Hamas”.
Segundo o Ministério Israelense dos Negócios Estrangeiros, “esta guerra foi imposta a Israel pelo Hamas, e o Hamas é o único responsável pela sua continuação. Israel concordou repetidamente com as propostas americanas de um cessar-fogo e de libertação dos reféns. O Hamas recusou todas e cada uma dessas propostas”.