A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou nesta segunda-feira (31) que a “magnitude do desastre” provocado pelo sismo de magnitude 7,7 em Myanmar “continua incerta”, mais de 72 horas após o devastador terremoto.
Em comunicado, a equipe da organização multilateral em Myanmar (antiga Birmânia) relatou “destruição generalizada” e comunidades inteiras devastadas pelo sismo, que atingiu o país na sexta-feira (28), com epicentro na região de Sagaing, no centro-norte de Myanmar.
“Os hospitais das regiões afetadas estão sobrecarregados e as rotas de comunicação e transporte foram severamente interrompidas. Milhares de pessoas dormem ao relento, temendo tremores secundários e incapazes de regressar às suas casas danificadas”, diz o comunicado.
O chefe da Junta Militar, Min Aung Hlaing, que está no poder desde o golpe de 2021, afirmou nesse domingo que o tremor deixou 1.700 mortos, além de 3.400 feridos.
Entretanto, a agência de notícias local independente Mizzima aumentou hoje o número de mortos para cerca de 3.000, enquanto as organizações não governamentais (ONG) e fontes locais afirmaram que a destruição nas cidades de Mandalay – a segunda maior – e Sagaing, as mais próximas do epicentro, é extensa.
A Junta Militar decretou hoje sete dias de luto nacional, até 6 de abril, como “reconhecimento da perda de vida e pelos danos causados” pelo sismo, que destruiu milhares de edifícios, estradas e pontes.
As Nações Unidas exigiram “acesso irrestrito” para o envio de pessoal humanitário ao país, que vive um conflito armado que se agravou desde o golpe militar em 2021.
O relator especial da agência para a Birmânia, Tom Andrews, avisou no sábado que a Junta Militar birmanesa usa a ajuda militar como “arma”.
O coordenador humanitário da ONU no país do Sudeste Asiático, Marcoluigi Corsi, disse que a agência está mobilizando equipes de emergência médica, materiais de abrigo, alimentos, água, saneamento e ajuda de higiene, “apesar dos graves desafios logísticos”.
“Esaa última tragédia agrava uma crise já terrível e ameaça minar ainda mais a resiliência das comunidades já afetadas por conflitos, deslocamentos e desastres anteriores”, disse.
A ONU estima que cerca de 20 milhões de pessoas, um terço da população, foram afetadas de formas distintas pelo terremoto.
As Nações Unidas apelaram urgentemente aos doadores para que “forneçam rapidamente o financiamento necessário e flexível” para ampliar a resposta no local, onde foram mobilizadas equipes de ajuda de vários países.
Equipes de resgate prosseguem hoje as buscas de sobreviventes, enfrentando dificuldades para chegar às zonas mais afetadas. As autoridades birmanesas e grupos humanitários antecipam que o número de mortos deve aumentar nas próximas horas e os dados oficiais sejam compilados.
Por outro lado, a Junta Militar nega a entrada da imprensa estrangeira para cobrir o tremor, o que justifica a dificuldade de encontrar habitação, além dos cortes de energia e água.
A junta impõe controle rígido sobre a imprensa, com vários meios de comunicação independentes e jornalistas forçados ao exílio ou a operar no estrangeiro após o golpe.
A organização não governamental (ONG) Freedom House declara a Birmânia como país “não livre”.