O papa Francisco aceitou a renúncia do bispo brasileiro de Limeira (SP), monsenhor Vilson Dias de Oliveira, informou nesta sexta-feira (17) a Santa Sé em um comunicado
Dom Vilson é suspeito de tentar extorquir dinheiro de membros do clero (teria pedido, por exemplo, R$ 50 mil a um padre para colocar armários em casa), de aumentar seu patrimônio com recursos desviados da igreja e de acobertar o padre Pedro Leandro Ricardo, afastado da Basílica de Santo Antônio, em Americana (SP), após a Folha revelar denúncias de abuso contra menores, em janeiro.
Suspeita-se que dom Vilson tenha feito vista grossa para os crimes do padre, que, em troca, silenciaria sobre as infrações do superior. Os dois negam as acusações.
Em carta de despedida, o bispo reconheceu suas “limitações”, apontando que que “nesses últimos meses enfrentamos todo tipo de cruzes, por meio de ataques à nossa Igreja Particular de Limeira, a mim e a vários presbíteros”.
“Hoje me despeço de vocês como bispo diocesano e peço minha renúncia por amor à Igreja de Cristo e pelo bem desta diocese”, escreveu.
O Vaticano anunciou que dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, será o administrador apostólico “sede vacante” da diocese.
Dom Vilson e o padre também são alvo de ação do Ministério Público. A pedido da Promotoria, a Polícia Civil de Americana abriu um inquérito para investigar acusações contra os sacerdotes católicos.
Em janeiro, a Folha de S.Paulo conversou com quatro pessoas citadas no inquérito, entre supostas vítimas e seus parentes. Elas citaram cinco garotos que teriam sido alvo de Leandro em paróquias por que passou -entre avanços que não prosperaram e casos consentidos.
As quatro pessoas com quem a reportagem conversou pediram anonimato -os nomes dos menores foram trocados para preservar suas identidades.
O pai de Alexandre, hoje com 17 anos, fala pelo filho. Segundo ele, a rotina do padre com o menor de idade, iniciada em torno de 2015, incluía abraços apertados e carícias indevidas. Alexandre era um dos meninos que ajudavam o clérigo na missa, chamados de coroinhas e acólitos.
O pai afirma que, traumatizado, o rapaz criou aversão àquela paróquia e sua depressão foi tamanha que a família se preocupou que ele pudesse se matar -chegaram a trancar um aposento onde armazenavam produtos para o orquidário da casa, como agrotóxicos, com medo que o garoto pudesse tomá-los.
Rodolfo, 34, disse à Folha que seu caso foi mais antigo, no começo dos anos 2000 -era então adolescente.