A combinação de produção agrícola com preservação ambiental, conhecida como agrofloresta — que é um modelo de uso da terra justo e sustentável — está sendo apontada por especialistas do clima e ativistas como ideal para a recuperação do planeta. O sistema busca otimizar terrenos e transformar o monocultivo em florestas biodiversas, sendo uma das principais apostas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
O modelo agroflorestal propõe o cultivo de lavouras, como o milho, sob a sombra de árvores maiores, como a castanheira-do-pará. Essa técnica promove uma agricultura baseada na ecologia e sem agrotóxicos.
Duas Frentes de Atuação
Moisés Savian, engenheiro agrônomo e secretário do Ministério do Desenvolvimento Agrário, explicou que a agrofloresta atua em duas frentes cruciais: mitigação e adaptação dos efeitos das mudanças do clima.
Mitigação (Redução de CO₂): Ao substituir pastagens ralas por agroflorestas, há um aumento na absorção de Dióxido de Carbono (CO₂) pelas plantas, diminuindo o excesso de gases do efeito estufa na atmosfera.
Adaptação (Resiliência): A junção de plantas menores com árvores de raízes profundas propicia sombra e facilita a captação de água. Isso torna lavouras mais resilientes em períodos de crise hídrica e estiagens.
A lógica da agrofloresta agrega ainda a questão da geração de renda e produção de alimentos, sendo uma ferramenta potente contra a fome no mundo.
Raízes Ancestrais e Inovação
O conceito de florestas produtivas ganhou popularidade durante a COP 30, em Belém (PA), mas representa um caminho ancestral. O climatologista Carlos Nobre lembrou que os povos indígenas utilizam o conhecimento da biodiversidade há milênios, demonstrando uma convivência sustentável com a natureza.
A técnica milenar também é objeto de cooperação internacional, como o projeto entre Botuporã (BA) e comunidades da França, que incentiva a troca de saberes sobre agroecologia e sustentabilidade. Jovens e agricultores brasileiros e franceses participaram de intercâmbios para aprender e aplicar práticas como a construção de cercas vivas e a produção orgânica.
Yago Fagundes, estudante de Direito que participou de imersão na França, afirmou que a agroecologia é fundamental, pois atua tornando o solo um sumidouro de carbono, aumentando sua matéria orgânica e capacidade de reter água, o que protege comunidades de eventos extremos.
Desafios e o Consumidor
Savian defende que o futuro do Brasil está na agricultura resiliente, de baixo carbono e agroecológica em áreas degradadas e pastagens subutilizadas.
Um dos principais desafios é engajar o mercado consumidor. Savian citou a iniciativa de uma rede de supermercados internacional que está criando uma “prateleira de ‘produtos da floresta’” e oferecendo pagamento antecipado aos agricultores, superando a dificuldade de espera no varejo.
Para Savian, a Floresta em Pé é como uma “dose meio homeopática” que, tomada de forma contínua, pode fazer parte da solução para a emergência climática, juntamente com o combate ao desmatamento e o uso mais eficiente das áreas já abertas.









































