Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) aponta que micro e nanoplásticos estão presentes em água, ar e alimentos, chegando até mesmo aos seres humanos. A pesquisa analisou 140 estudos internacionais e nacionais sobre o tema, mostrando que a contaminação é ampla e ainda pouco compreendida em relação aos efeitos sobre a saúde.
De acordo com o professor Vitor Ferreira, do Instituto de Química da UFF, “os plásticos não são biodegradáveis e se quebram em micropartículas e nanopartículas, que se acumulam na água, no solo, no ar e na cadeia alimentar. Até a água que consumimos contém micro e nanoplásticos”.
Contaminação alimentar e ambiental
Os estudos identificaram partículas em alimentos como açúcar, sal, mel, além de peixes e frutos do mar, que transferem micro e nanoplásticos aos humanos. Animais contaminados foram encontrados da Amazônia ao Rio Grande do Sul, e há evidências de que as partículas também podem ser inaladas ou absorvidas pela pele.
Estima-se que um ser humano consome entre 39 mil e 52 mil microplásticos por ano, número que pode chegar a 121 mil quando se considera a inalação. Pessoas que consomem apenas água engarrafada podem ingerir quase 90 mil microplásticos a mais. Segundo os pesquisadores, os números ainda são subestimados devido a limitações técnicas na detecção de nanoplásticos.
Possíveis impactos na saúde
As partículas podem se depositar nos pulmões, boca e corrente sanguínea, acumulando-se em tecidos e órgãos. Estudos recentes detectaram microplásticos em placentas e cordões umbilicais, sugerindo exposição fetal. Embora a relação direta entre a contaminação e doenças ainda precise ser comprovada, há indícios de associação com formação de coágulos nas artérias e outros problemas de saúde.
O professor Ferreira destaca que os plásticos são polímeros sintéticos produzidos principalmente a partir de petróleo, presentes não só em embalagens, mas também em pneus, roupas e outros produtos industrializados, incluindo aditivos químicos que podem agravar os efeitos.
Medidas de mitigação
Para o pesquisador, ações urgentes são necessárias: “É preciso ampliar a reciclagem e reduzir o descarte na natureza. Mas isso depende de ações individuais, industriais e governamentais”, afirma. A ONU tenta estabelecer desde 2022 um tratado internacional para reduzir a poluição plástica, mas as negociações já foram adiadas duas vezes.