Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2025 — Um estudo da Oxfam Brasil aponta a insuficiência e desigualdade no financiamento climático no país, mostrando que as lacunas orçamentárias aprofundam desigualdades raciais, de gênero e territoriais, afetando principalmente as populações mais vulneráveis.
O relatório, intitulado Encruzilhada Climática, destaca que as regiões Norte e Nordeste concentram os piores índices de renda e os maiores percentuais de população preta, parda, indígena e quilombola, justamente os grupos mais expostos a secas, enchentes e outros desastres ambientais. Favelas e periferias, onde 73% da população é negra, estão localizadas em áreas de risco e carecem de infraestrutura adequada para enfrentar eventos climáticos extremos.
“Estamos diante de um racismo ambiental evidente. A crise climática escancara e aprofunda injustiças históricas. Não haverá transição justa sem enfrentar o racismo, a desigualdade de gênero e a concentração de terras”, afirmou Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil.
O levantamento critica a atuação do Estado brasileiro, que continua sendo majoritariamente reativo, liberando créditos extraordinários apenas após desastres, como os R$ 111,6 bilhões destinados às enchentes no Rio Grande do Sul em 2024. Segundo o estudo, apenas 12% dos R$ 185 bilhões previstos no Plano Plurianual 2024-2027 para ações climáticas são destinados à adaptação, etapa essencial para proteger comunidades vulneráveis.
Orçamento ambiental
Em 2023, a área de gestão ambiental recebeu apenas 0,34% do Orçamento da União, ou seja, menos de R$ 1 a cada R$ 300 do orçamento federal foi destinado à proteção do meio ambiente. Setores com alto impacto nas emissões de carbono, como agricultura (R$ 90,25 bilhões) e transporte (R$ 43,91 bilhões), receberam valores muito maiores. O Fundo Clima, por exemplo, contou com R$ 10,4 bilhões, comparado aos R$ 400 bilhões do Plano Safra 2024/2025.
“Essa escolha orçamentária revela uma prioridade perversa: privilegia setores que intensificam a crise climática em detrimento da proteção das pessoas e territórios em maior vulnerabilidade”, disse Viviana Santiago.
Propostas do estudo
O relatório sugere medidas para promover justiça climática e social no Brasil, como:
- Incorporar recortes de raça, gênero e território em todas as políticas climáticas;
- Garantir participação efetiva de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais nas decisões;
- Direcionar recursos prioritariamente à adaptação em territórios mais vulneráveis;
- Condicionar o crédito rural à adoção de práticas sustentáveis e à redução de emissões.