O Cerrado brasileiro perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa nos últimos 40 anos, o que equivale a 28% de seu território original. Os dados alarmantes são de uma análise da série histórica do MapBiomas sobre o uso do solo no Brasil, divulgada nesta quarta-feira, 1º de outubro de 2025, em Brasília. Somada às perdas anteriores, quase metade do bioma, 47,9%, já foi transformada.
A analista de pesquisa do IPAM e da equipe do Cerrado do MapBiomas, Bárbara Costa, alerta para os impactos dessa transformação. Eles variam desde a fragmentação de habitats e a pressão sobre os serviços ecossistêmicos até mudanças no regime hídrico, tornando o bioma mais vulnerável a extremos climáticos.
Avanço da Agricultura e Pastagens
As atividades humanas de pastagem, agropecuária e silvicultura são as que ocuparam o espaço da vegetação nativa. Em 2024, as pastagens respondiam por 24,1% do Cerrado, e a agricultura, por 13,2%.
Apesar de as pastagens ainda ocuparem o maior espaço, a agricultura foi a atividade que mais cresceu. Nos últimos 40 anos, registrou uma variação de 533%, avançando sobre 22,1 milhões de hectares.
A formação savânica foi a mais atingida, com redução de 26,1 milhões de hectares.
A agricultura se expandiu e se intensificou, principalmente a de lavouras temporárias, como a soja, que em 2024 ocupava 25,6 milhões de hectares.
Segundo a pesquisadora Bárbara Costa, essa transformação acelerada consolidou o Cerrado como região central da produção agrícola do país, especialmente para grãos.
Transformação de Cobertura de Água e Matopiba
O estudo aponta também uma transformação na cobertura de água. Corpos naturais, como rios e veredas, deram lugar à água antrópica, proveniente de hidrelétricas, reservatórios e aquicultura. Em 2024, 60,4% do total do território coberto por água no bioma tinha essa natureza antrópica.
A maior parte da vegetação nativa remanescente do Cerrado está concentrada na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Apesar de responder por 30% do bioma, o Matopiba perdeu 15,7 milhões de hectares em 40 anos. O avanço da supressão foi mais intenso entre 2015 e 2024, período em que a região foi responsável por 73% da reversão no uso do solo.
Áreas Preservadas e Desmatamento
A análise destaca que a maior parte da vegetação nativa está em áreas protegidas, como Territórios Indígenas, que conseguem manter 97% de Cerrado integral. As áreas militares e as Unidades de Conservação também preservam cerca de 95% de seus territórios.
O contraste é evidente com outras formas de ocupação, como áreas urbanas, onde apenas 7% do Cerrado permanece em pé.
Apesar do cenário de perdas, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação registrou uma queda de 20,8% na área sob alerta de desmatamento no Cerrado entre agosto de 2024 e julho de 2025. Contudo, 5.555 km² do bioma ainda permaneceram sob alerta no período, segundo o Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter) e o Projeto de Monitoramento do Desmatamento por Satélite (Prodes).