É interessante este questionamento levantado pela COP30 em Belém, porque mostra como, o mundo e parte dos brasileiros continuam enxergando aqueles que moram nas regiões afastadas das áreas consideradas desenvolvidas do país. Turistas não reclamam de viajar para o Rio de Janeiro e principalmente se hospedar em comunidades dominadas pelo tráfico, admirar a vista para o mar, pagar por shows exorbitantes de artistas nacionais e internacionais. Mesmo correndo o risco de serem atingidos por balas perdidas, arcar com o valor, nesses momentos, parece aceitável. Isso não é uma crítica ao local, tendo em vista que essa violência é, infelizmente, um problema generalizado em muitas capitais brasileiras.
Mas quando se trata da Região Norte, o entendimento, frequentemente veiculado por uma imprensa parcial, é o de que não temos valor, sendo-nos imposta a imagem de cidadãos desinformados e inferiores. Essa é a visão dessa gente, que muitas vezes se traveste de protetora da floresta amazônica, defensora dos povos indígenas e preocupada em defender a terra das ações humanas.
No entanto, quando cobrados a demonstrar seu apreço pelo meio ambiente, julgam demasiado oneroso hospedar-se em um local que reflita a importância da região. A COP30 escancara a hipocrisia daqueles que, a pretexto de defender o bioma, esquivam-se de investir em hospedagem na Amazônia, o palco da discussão climática.

A escolha de Belém, no Pará, para sediar a COP30 a partir de 10 de novembro demonstra a visão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e transforma este evento, pela primeira vez, em um marco onde a realidade amazônica ocupa o centro do debate ambiental. Como esperar ações efetivas em favor do meio ambiente de quem usufrui de escritórios, sofisticações e bens extraídos da natureza? Não seria isso uma hipocrisia?
A escolha de Belém, em plena floresta Amazônica, foi simbolicamente uma forma de pautar as autoridades mundiais e levá-las à reflexão diante do palco da maior biodiversidade do planeta e afirmar a todos: ‘Vocês estão na floresta onde a vida floresce, mas a destruição avança. É nela que devem focar, e não no seu bem-estar. Sintam a realidade de pouco mais de 18 milhões de moradores”.
Independentemente da (re)-clamação pelo preço da estadia em Belém, ao considerarmos a importância da preservação imersa na Amazônia, o valor cobrado ainda é irrisório. Que fique bem claro, neste cenário de vida remanescente: a Amazônia é o espetáculo, e qualquer quantia é insuficiente para compensar o desrespeito causado pelo homem contra a floresta.
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