A biodiversidade da Amazônia está sob ameaça e entre os mais afetados estão os botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e os tucuxis (Sotalia fluviatilis), cetáceos icônicos que desempenham um papel crucial no equilíbrio dos rios amazônicos. Desde 2021, a Sea Shepherd Brasil, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), conduz expedições de pesquisa científica para avaliar a saúde das populações desses golfinhos de rio e desenvolver estratégias de conservação.
A sexta expedição, Expedição Boto da Amazônia VI, teve início em 14 de março de 2025 e percorreu mais de 1.000 km de rios, lagos e igarapés da região do Médio Solimões. Com uma equipe composta por 21 tripulantes, incluindo 9 cientistas do INPA, da Sea Shepherd Brasil e da UFPA, a missão analisou os impactos da pesca ilegal, da poluição por plásticos e das secas extremas de 2023 e 2024 na sobrevivência desses mamíferos.
Secas históricas e a crise na população de botos
O ano de 2023 registrou uma das maiores tragédias ambientais da região, com mais de 320 botos encontrados mortos nos lagos de Tefé e Coari, segundo o Instituto Mamirauá e UFAM Coari. Em 2024, 29 novos casos foram registrados apenas no Lago de Coari pela Sea Shepherd Brasil, evidenciando um fenômeno sem precedentes. Embora as causas ainda estejam sob investigação, cientistas acreditam que a combinação de temperaturas elevadas e redução drástica do nível da água podem ter sido fatais para esses animais, principalmente os mais vulneráveis.
A expedição buscou responder perguntas cruciais: qual o impacto real da seca extrema sobre a população dessas espécies? Como garantir sua preservação diante de desafios crescentes, como secas extremas e a pesca predatória?
Desafios na proteção dos botos: caça ilegal e pressão humana
A caça de botos é proibida no Brasil desde 1988, e a pesca da piracatinga, que utiliza botos e jacarés como isca, foi banida em 2015. No entanto, expedições anteriores da Sea Shepherd Brasil mostram que a prática ainda persiste ilegalmente, colocando essas espécies em risco. Com a diminuição dos habitats naturais devido às extremas secas, os botos ficam ainda mais vulneráveis à ação humana.
A Expedição Boto da Amazônia VI marca o fechamento do primeiro ciclo de seis expedições científicas, permitindo, pela primeira vez, uma análise aprofundada sobre a real condição dessas populações diante a estas ameaças. Os dados coletados serão analisados por especialistas do INPA e da Sea Shepherd Brasil, com a elaboração de relatórios técnicos que embasarão exigências de medidas governamentais urgentes para a preservação dos botos.
Engajamento local: educação ambiental e parcerias estratégicas
Nesta etapa, a Sea Shepherd Brasil fez uma importante parada em Coari, uma das cidades mais afetadas pela mortalidade dos botos. A missão incluiu: Monitoramento científico: contagem populacional de golfinhos no Lago de Coari e no rio Coari Grande; Educação ambiental: atividades com 100 alunos da Escola Estadual Iraci Leitão; Articulação política: reuniões com a nova gestão municipal para fortalecer o monitoramento e o patrulhamento da próxima seca; Visita e diálogo com comunidades ribeirinhas e indígenas no entorno do lago Coari: 13 lideranças locais relataram os impactos diretos da pesca predatória e da caça ilegal na região.
“Foi reconfortante para as comunidades saber que não estão sozinhas na luta para salvar um rio doente e à beira do colapso. Para nós, é um sopro de esperança, pois sentimos que agora temos ainda mais aliados — pessoas que dependem, mais do que ninguém, de rios saudáveis e prósperos na região — unindo-se em rede para pôr fim imediato às práticas ilegais e predatórias e proteger estes animais ameaçados”, afirma Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil.
Apoie a preservação dos botos da Amazônia
Desde 2023, a Sea Shepherd Brasil mantém presença constante em Coari durante o período da seca, com veterinários, biólogos e ambientalistas investigando a mortalidade dos golfinhos de rio e peixes-boi. A ONG também colabora com órgãos locais, como a UFAM de Coari, ADAF, IFAM e a Polícia Militar, para coibir a caça ilegal e pressionar por uma atuação mais firme das autoridades na região.
A organização depende de doações para continuar esse trabalho essencial. Para contribuir, acesse: www.botodaamazonia.org.br