As enchentes de abril e maio do ano passado causaram uma grande perda de nutrientes no solo da Serra Gaúcha. Um estudo divulgado pelo professor de agronomia Gustavo Brunetto, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), revela que mais de 85% do estoque de carbono nos pomares da região foi perdido. A recuperação pode levar de 14 a 40 anos.
Os dados foram apresentados no seminário RS Resiliência e Sustentabilidade, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde especialistas discutiram os impactos ambientais e sociais das inundações e possíveis soluções.
Perda de nutrientes e desafios para produtores
O professor Brunetto explicou que o volume extremo de chuva arrastou a camada mais fértil do solo para áreas mais baixas e rios, dificultando a recuperação da terra para o cultivo. “O solo perdeu nutrientes essenciais para o crescimento das plantas, comprometendo a produção agrícola”, destacou.
Além da perda de matéria orgânica, o estudo identificou redução nos níveis de fósforo, essencial para a fertilidade do solo. Isso pode aumentar os custos dos produtores, que precisarão investir mais em fertilizantes. Também há risco de contaminação da água devido ao deslocamento de sedimentos e nutrientes.
Caminhos para recuperação
Para minimizar os danos e prevenir novas perdas, Brunetto defende práticas como calagem, adubação e o uso de plantas de cobertura, que ajudam a reter umidade e evitar a erosão. Ele também recomenda a construção de terraços em áreas de cultivo, técnica que reduz o escoamento da água e protege o solo.
Impactos sociais e econômicos
As enchentes não afetaram apenas a agricultura. O professor de economia Gibran Teixeira, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), destacou que os danos vão além do campo, impactando empregos e arrecadação nos municípios atingidos.
Nos locais onde 10% da população foi afetada, houve perda de quatro empregos a cada mil habitantes. Já nas cidades com mais de 50% da população exposta às inundações, a queda no emprego formal e na arrecadação foi ainda mais grave, afetando também o atendimento em saúde.
“A economia praticamente parou nos municípios mais atingidos”, afirmou Teixeira, ressaltando a necessidade de políticas públicas para reconstrução e apoio às comunidades afetadas.