O anúncio da reconstrução da BR-319 há anos tem demonstrado o impacto da obra na Floresta Amazônica. Nos últimos anos, a pressão pela reconstrução do chamado “trecho do meio”, a parte mais sensível do projeto por atravessar o epicentro da floresta virgem, tem gerado grande desgaste ambiental.
A cada novo anúncio de restauração, os efeitos, segundo estudos do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e do Meio Ambiente (IMAZON), são preocupantes.

Os resultados indicam que o desmatamento ocorre de forma crescente mês a mês. Apesar dos números já serem alarmantes anteriormente, outubro de 2024 até agora registrou o período mais crítico de degradação da floresta. Os dados correspondem ao impacto em 13 municípios que são cortados pela rodovia federal, e apontam um aumento de 386% em comparação ao mesmo período de 2023.
Neste cenário, os órgãos ambientais analisaram o efeito do processo eleitoral, que, após declarações de políticos, resultou no avanço de novos ramais ilegais na região. O estado do Amazonas superou, em números de desmatamento, toda a Amazônia Legal, que abrange nove estados, divididos entre Amazônia Ocidental e Oriental. Sozinho, o Amazonas respondeu por 71% do desmatamento, enquanto os demais estados da Amazônia Legal somaram apenas 13%.
Para especialistas, o avanço do desmatamento nessa região está diretamente ligado ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Durante uma visita ao Amazonas em 2024, Lula foi questionado pela imprensa e pelo governador Wilson Lima (UB) sobre a obra da BR-319.
Na ocasião, Lula afirmou que a reconstrução dos 400 quilômetros da rodovia é fundamental para retirar duas capitais do isolamento. Ao se referir às capitais, ele mencionou Manaus (Amazonas) e Porto Velho (Rondônia). Essa declaração teria servido como gatilho para o avanço de grileiros e invasores, agravando ainda mais o desmatamento na Amazônia.
Os órgãos ambientais também destacam que entre agosto de 2023 e julho de 2024, houve uma redução do desmatamento de 30,6%, o maior índice de queda em 15 anos. No entanto, os novos dados sugerem uma reversão preocupante dessa tendência, trazendo de volta um cenário de destruição acelerada da floresta.