QUARTA-FEIRA, 14/05/2025

Brasil não trata meio ambiente com seriedade, diz promotor

Perigo maior é que danos aos ecossistemas sejam irreversíveis

Por Rafael Cardoso - Repórter da Agência Brasil - 20

Publicado em 

Brasil não trata meio ambiente com seriedade, diz promotor
Leonardo Milano/ICMBio
A Associação de Membros do Ministério Público do Meio Ambiente (Abrampa) promove, entre os dias 24 e 26 de abril, em Belém, no Pará, a 22ª edição do Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente. O tema é “Amazônia e Mudanças Climáticas: uma atuação socioambiental estratégica e integrada”. Mais de 30 especialistas vão discutir os desafios e as soluções para lidar com os impactos das mudanças climáticas.

A Agência Brasil entrevistou o presidente da Abrampa, Alexandre Gaio. Ele falou sobre os principais problemas relacionados à preservação do meio ambiente, em especial, os que envolvem a atuação dos Ministérios Públicos estaduais e federal. O promotor destacou a falta de seriedade com que o país ainda lida com questões ambientais, o crescimento do crime organizado, a falta de proteção com ativistas e comunidades tradicionais, assim como os riscos de que os desmatamentos em curso nos principais biomas do Brasil se tornem irreversíveis.

Agência Brasil: O Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente vai reunir dezenas de especialistas para debates e palestras. Sendo um setor que demanda ações urgentes, como esse encontro pode resultar em medidas práticas e efetivas de proteção do meio ambiente no Brasil?
Alexandre Gaio: Os congressos da Abrampa tradicionalmente buscam palestrantes de várias instituições, que têm uma atuação prática nas temáticas discutidas. Não se trata apenas de trazer diagnósticos, mas também proposições do que precisa ser feito para o enfrentamento dos problemas levantados. Nossos convidados são escolhidos pela atuação destacada para que possam servir de exemplo e referência, e os conhecimentos serem replicados nas mais variadas regiões do Brasil.

Também temos participado, seja a partir dos procuradores ou das instituições de forma ativa de Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP). A Abrampa foi nas duas últimas e vai estar presente na próxima. É um processo contínuo de debate e discussão, de convencimento em relação a prioridades e de enfrentamento às mudanças climáticas. Temos defendido nossos pontos de vista. É um espaço para discutir questões jurídicas e qual deve ser a política de Estado para enfrentar os problemas climáticos.

Agência Brasil: Hoje é possível dizer que o país enfrenta uma série de desafios ambientais. Um, que parece ter cada vez mais ramificações nacionais, é a criminalidade ambiental organizada. Como lidar com essas redes ilícitas complexas?
Alexandre Gaio: Esse tema precisa de muita atenção não só dos Ministérios Públicos, mas das demais instituições públicas do Poder Judiciário e da própria sociedade. A gente sabe que há crimes ambientais em todo o Brasil. E eles são constantes, ocorrem rotineiramente, merecem uma atenção destacada dos órgãos do sistema judiciário. Envolvem grupos especializados, associados com outros ilícitos. Atuam no desmatamento, na dinâmica ilegal do comércio da madeira, entre outras coisas. Há organizações que tratam do desmatamento ligado à grilagem de terras públicas. Outras que são especializadas no tráfico de animais silvestres. Essas situações merecem atuação também especializada dos órgãos de fiscalização, dos Ministérios públicos e do Poder Judiciário. Caso contrário, não teremos uma resposta proporcional a esse tipo de crime, que envolve complexidades, necessita de aprofundamento de investigações e técnicas diferenciadas. Primeiro, precisamos de disposição dos Ministérios Públicos, dos órgãos de Segurança Pública e dos órgãos de fiscalização, especialmente de fiscalização ambiental. E todos esses órgãos devem dispor de recursos humanos, de planejamento, de capacitação e de uma atuação articulada e integrada entre eles. Há uma série de elementos necessários para que esse enfrentamento ocorra de modo efetivo. Dentre esses elementos a gente pode citar a implementação de grupos de atuação especializada na defesa de Meio Ambiente. A gente tem buscado estimular, junto com o Conselho Nacional do Ministério Público, os Ministérios Públicos estaduais a formarem esses grupos. Que tenham equipes técnicas com uso de tecnologia, com integração com os órgãos de segurança pública e com órgãos de fiscalização ambiental. Isso tudo vai permitir uma atuação minimamente à altura das organizações que trabalham na criminalidade ambiental.

Agência Brasil: O país é conhecido negativamente pelo número alto de perseguições e assassinatos de ativistas. No que estamos falhando e como melhorar a proteção de lideranças e de instituições que atuam em defesa do meio ambiente?
Alexandre Gaio: Primeiro, precisamos de recepção e tratamento mais adequados para esses casos de agressões, ameaças e violências contra ativistas, lideranças de organizações ambientais, de povos indígenas e populações tradicionais. Um protocolo ou uma prioridade de atuação em relação a esses casos, porque são atores importantes, que muitas vezes são desestimulados a continuar a luta por causa dessas violências. E quando não há respostas efetivas rápidas a crimes praticados contra os ativistas fica uma sensação de impunidade e de que não haverá resposta estatal à altura. Em segundo lugar, existe a questão do discurso, de como se maneja o discurso ambientalista pela mídia, poder público, sociedade civil. Há ainda um menosprezo em relação aos argumentos ambientais. A pauta ambiental não é tratada com a seriedade que deveria ser tratada, a ponto de se conscientizar e se convencer a sociedade brasileira de que crimes ambientais são fatos de gravidade. Que eles afetam toda a comunidade, a qualidade de vida geral e a própria possibilidade de as gerações futuras usufruírem de um meio minimamente equilibrado.

Agência Brasil: Em relação às questões sociais, ainda estamos muito aquém do que deveríamos na proteção de comunidades tradicionais. Que inclusive são reconhecidas como protetoras do meio ambiente. O que pode ser feito nesse sentido?
Alexandre Gaio: As populações tradicionais são fundamentais para o combate ao desmatamento, à grilagem e às queimadas. São fundamentais para a defesa da biodiversidade. E têm sido vítimas de pressão de grileiros e de proprietários de terras, que querem expandir suas fronteiras agrícolas. E muitas vezes há violações de direitos dessas populações. É preciso ouvir a voz delas e entender suas dinâmicas. O Estado deve proteger e auxiliar os que trazem essas demandas. Atuar fortemente na resposta a essas violações de direitos, garantir a consulta prévia e livre às informações de qualquer atividade, obra ou empreendimento que possa afetar diretos ou modos de vida tradicionais desses povos. Há uma série de medidas, iniciativas e atuações indispensáveis para a defesa dessas comunidades e desses povos. Também vale destacar as discussões que faremos sobre o tema das desigualdades socioambientais. A questão do racismo ambiental, como as decisões de governança, decisões de políticas públicas, são diferentes quando é para atender, por exemplo, grandes empreendimentos e quando é para atender populações socialmente vulneráveis. E como essas populações são atingidas com muito mais frequência do que aquelas mais favorecidas do ponto de vista econômico.

Agência Brasil: Recentemente, o chefe do clima da Organização das Nações Unidas disse, enfaticamente, que a humanidade tem dois anos para tentar salvar o planeta. Uma frase forte, que alerta para a gravidade da proteção ao meio ambiente. Como estamos contribuindo no Brasil para salvar o planeta? Estamos avançando bem ou construindo um futuro sombrio?
Alexandre Gaio: Os desafios são atuais e constantes. O Brasil tem demonstrado esforços, desde o ano passado até abril desse ano, para a redução do desmatamento da Amazônia. É necessário reconhecer esse esforço, especialmente dos órgãos de fiscalização, dos integrantes do Ministério do Meio Ambiente no governo federal. E também a participação de alguns estados e municípios. É um avanço importante, mas há muito a ser feito. A situação é muito delicada, muito preocupante. Primeiro, porque o índice de grilagem de terras públicas na Amazônia ainda é muito alto. Houve redução do desmatamento, mas ele continua acontecendo. Em outros biomas, o desmatamento continua com índices bem elevados, exemplo do cerrado. E a gente continua com muitas dificuldades de estabelecer atuações integradas, planejadas, articuladas e constantes nesse combate ao desmatamento. Ele é a principal causa de emissão de gases do efeito estufa, considerando a alteração no uso do solo. Essa deve ser uma prioridade absoluta: que todas as instituições atuem no combate ao desmatamento ilegal. Há uma série de iniciativas que ainda precisam ser concatenadas com a fiscalização do desmatamento. Por exemplo, a interrupção dos financiamentos feitos por instituições financeiras. A capacidade de rastrear os produtos, algo que não funciona de modo adequado. A cadeia econômica do gado, da madeira.

Além da questão do desmatamento, estamos a passos muito lentos em relação à questão climática. Quando se fala em geração de energia, por exemplo, a transição energética é muito lenta. A matriz de impactos climáticos não é observada nos grandes licenciamentos ambientais. A Abrampa tem um trabalho sobre isso, produziu uma matriz de impactos climáticos e disponibilizou para todos os estados e todos os Ministérios Públicos para fazer o convencimento dos órgãos ambientais. Para que os MPs estaduais convençam os órgãos ambientais de que é necessário se observar condicionantes e pressupostos relacionados às mudanças climáticas nos grandes licenciamentos.

Os desafios são muito grandes. E não tem nada para ser comemorado. Pelo contrário. Há grandes porções territoriais da Amazônia que já não conseguem resgatar mais as suas funções ecológicas. Ou seja, entraram em um processo de irreversibilidade, que já afeta o regime hídrico não só da Amazônia, mas de outras regiões brasileiras. O cerrado, então, que abrange e dá origem a maior parte das bacias hidrográficas brasileiras, tem índices de desmatamento galopantes, que precisam de uma resposta imediata. Isso, sob pena também de irreversibilidade. O cenário não é positivo e a gente precisa ter uma atuação mais efetiva do poder público e da sociedade para freá-lo. Precisamos cumprir as metas que nos obrigamos a cumprir internacionalmente pelo Acordo de Paris. Estamos muito longe de conseguir isso.

Publicidade
Publicidade Governo de Rondônia
Publicidade
Publicidade
NEWSTV
Publicidade
Publicidade
Publicidade

NEWS QUE VOCÊ VAI QUERER LER

Descarte incorreto de óleo lubrificante coloca Rio Madeira em risco

Descarte incorreto de óleo lubrificante coloca Rio Madeira em risco

Você sabia que um único litro de óleo lubrificante usado pode contaminar até 1 milhão de litros de água?
L
Mudanças climáticas: Rondônia adota medidas para enfrentar a estiagem de 2025

Mudanças climáticas: Rondônia adota medidas para enfrentar a estiagem de 2025

A operação teve o seu planejamento iniciado em outubro de 2024, e é coordenada pelo Corpo de Bombeiros de Rondônia (CBMRO) e Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil de Rondônia (CEPDEC).
L

Prefeitura amplia canais de comunicação com a população para demandas ambientais

Técnicos da Sema respondem aos questionamentos e prestam orientações aos munícipes
L
Bioeconomia impulsiona desenvolvimento sustentável na Amazônia e atrai investimentos públicos e privados

Bioeconomia impulsiona desenvolvimento sustentável na Amazônia e atrai investimentos públicos e privados

No Pará, modelo de produção pode atingir 4,5% do PIB estadual até 2030
L
Publicidade
Águas Minalinda
Publicidade

DESTAQUES NEWS

Coluna do Simpi – Nasceu o Exporta Simples: proposta do Simpi que virou Política Nacional para Pequenos Exportadores

A ideia era desburocratizar o processo e dar ao pequeno industrial um fôlego competitivo no cenário internacional.
L

Rondônia tem uma das menores populações quilombolas rurais do Brasil

O levantamento faz parte de um suplemento inédito do Censo Demográfico 2022, que pela primeira vez investigou de forma detalhada o perfil territorial dos quilombolas brasileiros.
L

Governo aprova novo zoneamento climático para cultivo do abacaxi em Rondônia

A medida representa um reforço importante para os produtores rondonienses que já apostam na fruta como fonte de renda.
L

Agenda News | Dra. Carla Castelli, Dermatologista

Nesta terça-feira, dia 13, às 17h, o Agenda News recebe a Dra. Carla Castelli, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, para falar sobre o CoolFase – um avanço tecnológico direto da Coreia que promete revolucionar os cuidados com a pele. O método melhora a flacidez e redefine o contorno facial com conforto, segurança e sem tempo de recuperação.
L

Giro News | Entrevista Adélio Barofaldi – Presidente da APRON

Nesta terça-feira, dia 13, às 16h, o Giro News recebe Adélio Barofaldi, presidente da APRON – Associação dos Pecuaristas de Rondônia. Na entrevista, ele contará como surgiu a associação, sua missão na defesa do direito de propriedade e os esforços para fortalecer a pecuária no estado.
L
Publicidade

EMPREGOS E CONCURSOS

Prefeitura destaca gratuidade nas inscrições do processo seletivo da saúde

O candidato deve realizar a inscrição exclusivamente pela internet até o dia 16 de maio
L

Semed chama aprovados em seleção de voluntariado para assinatura do termo de compromisso

Os candidatos deverão se apresentar até o dia 21 de junho munidos dos documentos listados na convocação
L
Prefeitura de Cacaulândia abre seleção com 86 vagas e salários de até R$ 3,7 mil

Prefeitura de Cacaulândia abre seleção com 86 vagas e salários de até R$ 3,7 mil

A seleção ocorrerá por meio de análise de títulos, e alguns cargos também exigirão prova prática, conforme previsto no edital.
L

Concurso da Conab oferece 403 vagas com salários de até R$ 8 mil

Inscrições seguem abertas até 15 de maio e despertam grande interesse entre concurseiros de todo o país
L

Semed publica homologação dos recursos do Edital 02 do processo seletivo de voluntários

Serviços serão prestados de forma voluntária, ou seja, sem vínculo empregatício
L
Publicidade

POLÍTICA

Deputada Cláudia de Jesus apresenta iniciativas para valorizar a pesca artesanal

Deputada solicitou políticas públicas, estrutura técnica e respeito às comunidades tradicionais.
L
Prefeita Carla Redano recua e não garante reajuste inflacionário a servidores em 2025

Prefeita Carla Redano recua e não garante reajuste inflacionário a servidores em 2025

O Sitmar lamenta que, após meses de diálogo aberto e propostas apresentadas para viabilizar a recomposição salarial de forma responsável, a gestão municipal tenha rompido com a palavra dada aos servidores.
L

Após protesto na BR-364, deputada Dra. Taíssa se reúne com lideranças e atua pela regularização fundiária

Reunião com lideranças de bairros impulsiona tratativas entre poder público e moradores por regularização fundiária em Porto Velho.
L

Deputada Dra. Taíssa presta homenagem às agremiações do Duelo na Fronteira durante Sessão Solene na ALE-RO

Evento reconheceu o trabalho cultural dos Bois Malhadinho e Flor do Campo e anunciou investimentos para a edição 2025 do festival.
L

Deputado Edevaldo Neves destina R$ 3 milhões à Polícia Penal na maior emenda da história da categoria

Segundo o parlamentar, a destinação é fruto de um trabalho sério, com diálogo e compromisso com a categoria.
L
Publicidade

POLÍCIA

Homem é morto a tiros por casal em moto na zona leste

A PM foi acionada.
18

Mulher é presa após bater em vários carros e quebrar viatura da PM no centro

Em seguida, agrediu um dos motoristas que tirava fotos da placa.
12

Homem é atacado a tiros por criminoso em moto no Cai N’Água

De acordo com testemunhas, um indivíduo em uma moto se aproximou e fez vários disparos em direção à vítima, fugindo em seguida.
16

Motociclista em fuga sofre grave acidente na zona leste

O Samu foi acionado e socorreu o rapaz em estado grave ao hospital.
14

Bandidos rendem mãe e filha de 7 anos na rua Rio Grande do Sul

Polícia busca casal criminoso que agiu em plena luz do dia e pede ajuda da população
10
Publicidade

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Casal em moto passa direto em curva e sofre grave acidente na zona leste

De acordo com testemunhas, o casal transitava em uma moto de alta cilindrada quando o piloto perdeu o controle do veículo, passou direto na curva e acabou batendo em um entulho.
16

“Rob Gol” é encontrado morto em residência na zona sul

Equipes da PM isolaram o local até a chegada da perícia.
18

Requerimento de Alteração de Titularidade (Razão Social): LIMA & TEIXEIRA LTDA

Alteração de Titularidade (Razão Social) do processo nº 1801/01082/2011
L
Ancelotti se despede do Real Madrid e diz estar pronto para assumir a seleção brasileira após o fim da temporada

Ancelotti se despede do Real Madrid e diz estar pronto para assumir a seleção brasileira após o fim da temporada

Técnico italiano diz se orgulhar de anos inesquecíveis no Real Madrid
L
ABDI e Abiplast lançam selos para rastrear uso de plástico reciclado na indústria brasileira

ABDI e Abiplast lançam selos para rastrear uso de plástico reciclado na indústria brasileira

Empresas interessadas podem solicitar os selos a partir desta terça
L
PGR pede ao STF condenação dos acusados de envolvimento no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes

PGR pede ao STF condenação dos acusados de envolvimento no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes

Pedido é parte das alegações finais, última etapa antes do julgamento
L
Audiência pública sobre a LDO 2026 será realizada em 23 de maio

Audiência pública sobre a LDO 2026 será realizada em 23 de maio

A audiência tem como objetivo assegurar a transparência e garantir a participação popular, acontecerá de forma presencial no dia 23 de maio às 15h na Câmara de Vereadores.
L
Ato com mil pares de sapatos em Brasília cobra políticas públicas para portadores da Encefalomielite Miálgica

Ato com mil pares de sapatos em Brasília cobra políticas públicas para portadores da Encefalomielite Miálgica

Doença crônica causa fadiga extrema e afeta 1,5 milhão de brasileiros
L
Publicidade
ECO
Logo News Rondônia
Visão geral da privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.