Os familiares dos dez adolescentes mortos no trágico incêndio no Ninho do Urubu, o Centro de Treinamento do Flamengo, manifestaram “profundo e irrevogável protesto” contra a absolvição dos sete acusados no processo criminal. A decisão da 36ª Vara Criminal do Rio de Janeiro gerou um forte “sentimento de impunidade” entre as famílias das vítimas.
A tragédia ocorreu em fevereiro de 2019, quando 26 atletas das categorias de base dormiam nos contêineres usados como alojamento. O fogo, iniciado em um aparelho de ar-condicionado, resultou na morte de dez jovens, com idades entre 14 e 16 anos.
Ministério Público irá recorrer da decisão
A Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu (Afavinu) classificou a absolvição como uma “grave afronta à memória das vítimas” e uma “falha grave da Justiça”. Em nota, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) confirmou que irá recorrer da decisão judicial, buscando a revisão em instâncias superiores.
Sete pessoas respondiam pelos crimes de incêndio culposo e lesão grave. O juiz Tiago Fernandes Barros, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), entendeu que não havia “provas suficientes de que os acusados tivessem concorrido de forma direta” para o incidente. Ele destacou que não se pode responsabilizar criminalmente alguém apenas pelo cargo que ocupava.
Os réus absolvidos em primeira instância foram: Antônio Márcio Mongelli Garotti, Marcelo Maia de Sá, Edson Colman da Silva, Cláudia Pereira Rodrigues, Danilo da Silva Duarte, Fábio Hilário da Silva e Weslley Gimenes. O ex-presidente do Flamengo, Eduardo Carvalho Bandeira de Mello, teve a punibilidade extinta.
Processo cível contra o Flamengo continua
Paralelamente à esfera criminal, o Flamengo continua respondendo a um processo no âmbito cível. A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) e o MPRJ pedem que o clube pague indenização às famílias e um dano moral coletivo no valor mínimo de R$ 20 milhões, a ser destinado ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD).
Os familiares ressaltaram que a absolvição “fragiliza o mecanismo de proteção à vida e à segurança dos menores em entidades esportivas”. A Afavinu conclama a sociedade a exigir fiscalização e transparência, para que a tragédia, que vitimou jovens como Christian Esmério e Rykelmo de Souza Vianna, não se repita.
O Clube de Regatas do Flamengo não se posicionou oficialmente sobre a decisão na esfera criminal até a publicação desta matéria, em 22 de outubro de 2025.