As arrastadas e ainda não concluídas conversas com Palmeiras e Athletico-PR não trazem problemas só para a Globo, mas também para as operadoras de TV paga. São elas que vendem os pacotes de pay-per-view para os clientes finais, e não a Globo. As empresas culpam a emissora pelas notificações que receberam do Procon nas últimas semanas e por perderem dinheiro com descontos a assinantes.
As operadoras também se queixam da falta de transparência da Globo sobre o andamento das negociações com os dois clubes. O Campeonato Brasileiro começa neste sábado (27). Sem acordo com o Palmeiras e o Athletico, 20% dos jogos não poderão ser oferecidos no pay-per-view. Os assinantes do Premiere já pagaram por um pacote que incluía 100% das partidas.
O site apurou que Net/Claro, Oi, Sky e Vivo se irritaram porque, sempre que questionada, a Globo respondeu simplesmente que fecharia acordo até este sábado. Isso não permitiu às operadoras se anteciparem ao problema, comunicando os assinantes e organizando uma forma de compensação.
Sem todos os jogos do Campeonato Brasileiro, o assinante pode pedir um desconto na assinatura do canal à la carte, como orienta o Procon. Além de perder dinheiro, as empresas podem ser processadas.
A entidade de defesa do consumidor já notificou as operadoras por não darem informações claras sobre a amplitude dos pacotes do Premiere e negociarem descontos para os clientes que se sentirem prejudicados. A resposta das operadoras, segundo nota do Procon do último dia 18, não foi satisfatória.
No mercado, se prevê que Globo e operadoras terão um prejuízo de pelo menos R$ 100 milhões com o pay-per-view, por causa da ausência de Palmeiras e Athletico. Além de descontos, terão gastos com atendimento ao consumidor e processos judiciais.
Desde 1996, quando surgiu o Premiere, o assinante do pay-per-view paga para ter todos os jogos do torneio. Atualmente, o valor varia de R$ 79,00 a R$ 109,00. A reportagem ligou para todas as operadoras e perguntou se haveria desconto. Todas ofereceram cerca de 18 reais, com a mensalidade caindo para R$ 92.
De todas, a Net foi a única a dizer que, assim que Palmeiras e Athletico Paranaense fechem com a Globo, a mensalidade voltará ao preço original. As outras não informaram nada do gênero.
Ambos os clubes ainda estão um pouco longe de fecharem acordo –o Furacão um pouco mais próximo, pois já acertou contrato para a TV aberta, enquanto o Alviverde conversa para TV aberta e PPV.
O que está em jogo?
As operadoras se queixaram também a Globo de não terem acesso a detalhes da negociação, o que ajudaria a planejar os próximos passos ou algum tipo de compensação e resposta para o Procon-SP e para o público. A emissora só informa que está trabalhando para resolver o problema o quanto antes.
Palmeiras e Athletico discordam da divisão do pay-per-view, e querem uma métrica de pagamento mais justa. O Palmeiras também quer uma cota fixa de tudo o que for arrecadado, assim como Flamengo e Corinthians têm atualmente –o Timão e o Urubu recebem 18,5% fixos do arrecadado, e o Verdão quer entre 15% e 16%.
Já o Furacão pediu R$ 40 milhões em luvas para assinar com o Premiere, o mesmo valor de luvas pago pela Turner no acordo para os direitos de TV paga. A Globo não aceitou, mas as conversas continuam.
A Globo já aceitou pagar R$ 100 milhões em luvas para o Palmeiras. O clube, no entanto, quer mais. Um ponto usado pela emissora para defender seus argumentos é de que o Palmeiras não tem dado tanta resposta assim em 2019. Dos principais clubes paulistas, ele foi o que menos deu audiência neste ano, segundo levantamento feito pelo Notícias da TV.
Outro lado
Procurada, a Vivo enviou o seguinte comunicado: "A Vivo informa que não sendo programadora e licenciadora, não detém dos direitos esportivos de transmissão dos Campeonatos Estaduais e Brasileiros de futebol. Por isso, não participa de quaisquer negociações a respeito dos conteúdos de transmissão dos canais Globosat, incluindo o canal Premiere Futebol Clube".
"A empresa ressalta que comercializa e informa aos clientes que trata-se de um pacote com a maior cobertura do futebol brasileiro, sem a garantia dos times inseridos, além de oferecer sempre a flexibilidade ao consumidor para alterar o seu pacote de TV, a qualquer momento, sem qualquer penalidade, caso não desejem o pacote contratado", continuou a empresa.
"A Vivo ainda reforça que não recebeu nenhuma comunicação expressa sobre a limitação de jogos relativa ao pacote Brasileirão 2019 e orienta que procurem a programadora Globosat para maiores informações sobre o status da negociação com os clubes", concluiu a Vivo.
Globo e Sky preferiram não se pronunciar sobre o assunto. A Oi não respondeu aos contatos. Net/Claro não enviou uma resposta até a publicação deste texto.