Gérard Anaclet Vincent Encausse, mais conhecido pelo nome iniciático Papus (1865–1916), foi uma das figuras mais proeminentes do esoterismo europeu moderno. Nascido em La Coruña, na Espanha. Filho de um químico francês e mãe espanhola, Papus foi educado na França, onde formou-se em Medicina pela Universidade de Paris. Seu pseudônimo “Papus” provém do Nuctemeron de Apolônio de Tiana, expressão grega que significa “médico dos homens”, título que sintetiza sua missão espiritual: unir a ciência material e a sabedoria oculta em um mesmo corpo de conhecimento.
Desde a mais tenra idade, Papus interessou-se pelos mistérios da natureza e pelas tradições herméticas. Em meio à efervescência intelectual da Belle Époque, tornou-se uma ponte entre a ciência médica, a magia tradicional e a alquimia espiritual, defendendo a compatibilidade entre o método experimental e o simbolismo esotérico. Em 1887, fundou a Sociedade Teosófica Hermética e, dois anos depois, o Ordre Martiniste, inspirado nas doutrinas de Louis-Claude de Saint-Martin e na teurgia cristã. Essas instituições tinham como objetivo restaurar o ideal de uma sabedoria iniciática ocidental, em consonância com os princípios universais da alquimia e da cabala.
Sua formação médica conferiu-lhe rigor analítico e um profundo respeito pelos fenômenos naturais, que ele interpretava como manifestações do “espírito vital” ou anima mundi. Para Papus, a alquimia não era apenas uma protoquímica, mas uma ciência espiritual de transformação interior. Em sua obra Traité élémentaire de science occulte (1893), ele descreve os três reinos da alquimia — o físico, o astral e o espiritual — relacionando-os com as funções do corpo, da alma e do espírito. Essa visão tripartida ecoa a tradição hermética segundo a qual “o que está em cima é como o que está embaixo”, conectando o microcosmo humano ao macrocosmo universal. Neste livro, Papus lembra que “poucas são as pessoas que sabem dirigir sua vontade e evoluir de modo a influenciar o destino”.
Para o autoconhecimento e orientação das pessoas, Papus criou o Tarot des Bohémiens (1889), associando os 22 arcanos maiores do Tarot às letras do alfabeto hebraico e às vias da Árvore da Vida cabalística, estabelecendo uma ponte entre os símbolos adivinhatórios e a filosofia esotérica. Seu método de leitura e interpretação dos arcanos tornou-se uma das bases da cartomancia hermética moderna. Já em La Science des Mages (1892) e Le Livre des Formules (1895), ele defendeu a ideia de que a magia é a ciência das relações ocultas entre todas as coisas, e o mago, o “operador consciente” dessas forças.
Como médico, Papus aplicou os princípios do magnetismo e da medicina vibracional, antecipando a psicossomática moderna. Atendeu durante anos no hospital de La Charité, em Paris, onde procurava conciliar o diagnóstico clínico com a análise energética dos pacientes. Para ele, a saúde não era apenas ausência de doença, mas o equilíbrio entre corpo, mente e espírito — uma visão holística que, mais de um século depois, ainda encontra ressonância nas medicinas integrativas contemporâneas.
Entre suas publicações mais importantes destacam-se também Traité méthodique de science occulte (1891), La Kabbale (1892), Le Diable et l’occultisme (1895) e L’Occultisme contemporain (1905). Nelas, Papus aborda temas que vão da astrologia à teurgia, sempre com o propósito de restaurar a tradição hermética em linguagem acessível e científica. Além disso, manteve intensa correspondência com outros pensadores ocultistas, como Éliphas Lévi, Stanislas de Guaita e Joséphin Péladan, com os quais participou ativamente da Renascença Ocultista Francesa do final do século XIX.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Papus serviu como médico militar, atendendo feridos nas linhas de frente, o que acabou por agravar sua saúde. Faleceu em Paris, em 25 de outubro de 1916, aos 51 anos, vitimado por uma epidemia de gripe contraída em serviço.
A influência de Papus estende-se até hoje nos círculos herméticos e martinistas, sendo considerado o “Mago da Alquimia” por sua capacidade de transformar o conhecimento científico em sabedoria espiritual. Ele ensinou que o verdadeiro alquimista não busca apenas o ouro dos metais, mas o ouro do espírito, a lapis philosophorum interior que transfigura o ser humano em mediador entre o céu e a terra.
Giovanni Seabra
@giovanniseabra.esoterico
Grão-Mestre do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
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