A saudação “Laroyê Exú!” ecoa um som que desperta respeito, alegria, reverência e aciona a conexão com a entidade superior. Nas encruzilhadas, nos terreiros e nas festas populares, essa toada abre o caminho para o sagrado. A expressão, não é apenas um cumprimento ritual ancestral africano, é uma invocação de poder, um chamado que liga o mundo dos homens ao dos orixás.
O termo “Laroyê” tem origem no iorubá lá ro yé, que pode ser traduzido como “Salve o mensageiro!”. Trata-se de uma forma de reverenciar Exú, o orixá responsável por reger a comunicação, o movimento, a transformação e a iluminação dos caminhos, apontando a direção certa a seguir, quando nos sentimos numa “encruzilhada”. O som da palavra vibra a energia vital (axé) de um princípio dinâmico: o da passagem, da mudança e da troca. A retribuição a Exu é feita por meio de oferendas, cânticos, danças, salmos e orações.
Aparentado com Mercúrio, o mensageiro dos deuses, no Candomblé e na Umbanda, Exú cumpre a mesma função de facilitar a comunicação entre os homens e os orixás. É ele quem leva os pedidos, abre as estradas e assegura que toda oferenda ou oração chegue ao seu destino. Nenhum ritual começa sem sua permissão, pois sem Exú nada se move.
O culto a Exú é milenar e remonta às tradições religiosas dos povos iorubás da África Ocidental, especialmente da região que hoje corresponde à Nigéria e ao Benim, berço do Vodu. Em terras africanas, reza a tradição que Exú (ou Èṣù) é o primeiro a ser homenageado em qualquer cerimônia. Sua saudação ancestral atravessou o Atlântico com os povos escravizados e foi recriada no Brasil, preservando seus cantos e significados, mesmo sob feroz perseguição dos senhores de engenho.
A expressão “Laroyê Exú!” mantém o mesmo sentido de abrir caminhos e saudar a vitalidade da existência. Em diversas casas de axé, também se ouve “Exú é Mojubá!”, que significa “Exú, eu te saúdo, eu te respeito”. Assim, quando alguém diz “Laroyê Exú!”, o correto é responder com respeito e reciprocidade, afirmando: “Laroyê!” ou “Exú é Mojubá!”. Essa resposta reconhece a força do orixá e devolve a saudação com reverência. Mesmo fora dos terreiros, ao ouvir a expressão em contextos culturais ou religiosos, a resposta demonstra compreensão e respeito à tradição.
A saudação a Exú acontece em diversos espaços sagrados, como os terreiros de Candomblé, tendas de Umbanda, encruzilhadas, festas e celebrações públicas. Antes de qualquer ritual, Exú é o primeiro a ser chamado, pois é ele quem abre os portais para os demais orixás.
Nos rituais, sua presença é evocada com cânticos, tambores e oferendas que podem incluir farofa de dendê, cachaça, charutos e pimentas, símbolos de energia, prazer e comunicação. Em algumas casas, a cerimônia é iniciada ao som de “Laroyê Exú! Mojubá! Abra nossos caminhos, mensageiro divino!”
No Brasil, além dos espaços religiosos, Exú também é celebrado em manifestações culturais afro-brasileiras, como afoxés, maracatus, música popular, blocos carnavalescos e expressões artísticas contemporâneas.
A encruzilhada é o símbolo maior de Exú. Representa o encontro entre os caminhos — o ponto onde decisões são tomadas e destinos se cruzam. É nesse espaço simbólico que o orixá atua, equilibrando forças, promovendo trocas e abrindo novas possibilidades.
Para os devotos, ir à encruzilhada com respeito, saudar Exú e fazer suas oferendas é uma forma de restabelecer o fluxo da vida. O gesto não é superstição, mas um ato de conexão espiritual com as energias que regem o movimento e a transformação.
Por muito tempo, Exú foi injustamente associado a imagens demoníacas pela influência do pensamento colonial e cristão. Hoje, contudo, artistas, intelectuais e líderes religiosos vêm resgatando seu verdadeiro significado: o de força libertadora e de proteção, guardiã da palavra e da criação.
Em exposições, livros e músicas, Exú aparece como símbolo de resistência e ancestralidade africana, pois Exú é a própria energia vital que faz o mundo girar.
Dizer “Laroyê Exú” é, portanto, um ato de reconhecimento. É afirmar que a vida se move, que o mundo é feito de trocas e que a comunicação é sagrada. Exú ensina que cada palavra tem poder e que cada caminho pode ser reaberto com sabedoria e determinação.
Nos terreiros e nas ruas, a saudação continua viva, ecoando em vozes que celebram a ancestralidade e a força da cultura afro-brasileira.
AXÉ!
Giovanni Seabra
Grão-Mestre do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
@giovanniseabra.esoterico
@colegiodosmagosesacerdotisas





































