A vassoura, objeto aparentemente simples e cotidiano, atravessa os séculos carregando consigo um profundo simbolismo místico e cultural. Conhecida popularmente como “vassoura da bruxa”, ela é mais do que um instrumento de limpeza: tornou-se um ícone do imaginário coletivo sobre a feitiçaria e, em especial, sobre o papel das mulheres no universo mágico. A origem histórica do vínculo entre vassouras e bruxas remonta à Idade Média, quando práticas populares de limpeza espiritual e agrícola eram associadas à magia. Documentos históricos apontam que, em rituais de fertilidade, camponesas e curandeiras usavam vassouras para “varrer” campos e quintais, simbolizando a expulsão de más energias e a preparação da terra para uma nova colheita.
Esse aspecto de ancestralidade confere à vassoura uma função liminar: ela marca o espaço entre o sagrado e o profano, entre o que deve permanecer e o que deve ser afastado. Em tradições esotéricas, acredita-se que a vassoura possui a capacidade de purificar ambientes, limpando não apenas a sujeira física, mas também as energias negativas acumuladas. Por isso, em muitas culturas, recomenda-se varrer a casa do fundo para a porta, direcionando a energia indesejada para fora.
O significado esotérico da vassoura vai além da limpeza. O cabo, geralmente de madeira, representa o princípio masculino, enquanto as cerdas, de palha ou ervas, simbolizam o feminino, formando um objeto de união de polaridades, um verdadeiro talismã de equilíbrio. Essa dualidade a transformou em um dos instrumentos rituais mais importantes para praticantes de bruxaria, sobretudo dentro da tradição wicca. Entre os wiccanos, a vassoura é utilizada para delimitar círculos mágicos, purificar locais de celebrações e proteger o lar de influências externas indesejadas.
O mito da bruxa voando em sua vassoura é um dos mais conhecidos do folclore europeu. Pesquisadores afirmam que a lenda pode ter nascido de práticas xamânicas, em que ungüentos feitos com plantas de propriedades psicotrópicas eram aplicados em objetos como a vassoura, que então servia como veículo simbólico para “viajar” entre mundos espirituais. A imagem se cristalizou na cultura popular medieval, reforçada pelos julgamentos da Inquisição, que associaram a vassoura à suposta habilidade das bruxas de cruzar os céus durante o sabá.
Na contemporaneidade, especialmente com a valorização da Wicca a partir do século XX, a vassoura ressurge como um instrumento de poder espiritual. Não mais apenas símbolo de superstição ou perseguição, mas de sabedoria ancestral, de reconexão com a natureza e de proteção energética. Hoje, ela é vista como uma ferramenta ritual que auxilia na harmonização de ambientes, no fortalecimento da prática mágica e na preservação da memória das antigas tradições.
Outro aspecto que vem ganhando força na atualidade é o da sensualidade e do empoderamento das bruxas modernas. Em oposição à imagem caricatural da bruxa velha, feia e com uma verruga no nariz, popularizada pela literatura e pelo cinema, as feiticeiras atuais ressignificam sua identidade como mulheres fortes, sensuais e donas de seu próprio poder. Muitas dedicam-se à preparação de talismãs e poções do amor, associando a magia a rituais de autoconfiança e magnetismo pessoal. Nesse contexto, a vassoura não é apenas um símbolo de voo ou de limpeza, mas também um arquétipo do feminino que se reinventa, unindo mistério, beleza e força criativa.
Assim, a “vassoura da bruxa” atravessa os tempos mantendo viva a sua aura mística. Da limpeza material à espiritual, da perseguição à valorização, continua a ser um dos mais fortes símbolos da bruxaria, guardando consigo a essência de um legado ancestral que une mito, magia, sensualidade e sabedoria popular.
Atenção bruxas e feiticeiras, preparem as suas vassouras que o halloween está chegando.
Bahirah Abdalla
Mestre Conselheira do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
@colegiodosmagosesacerdotisas