Uma pesquisa coordenada pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR) foi aprovada na Chamada Pública MCTI/CNPq nº 03/2025 – Pró-Amazônia e vai analisar saúde indígena a partir das estratégias de comunicação de risco adotadas no Brasil e na Bolívia. O projeto busca contribuir para o aprimoramento de políticas públicas interculturais em contextos de emergências sanitárias, especialmente na Amazônia.
O estudo reúne mais de dez pesquisadores de diferentes instituições de ensino superior, sendo seis brasileiros e três internacionais. A iniciativa parte da constatação de uma lacuna científica relevante: a escassez de pesquisas que avaliem a efetividade da comunicação direcionada aos povos indígenas durante crises de saúde pública, como a pandemia de covid-19 e surtos de dengue e zika.
Intitulado “Comunicação de risco em saúde indígena: experiências e aprendizados em crises sanitárias no Brasil e na Bolívia”, o projeto é coordenado pelo professor e pesquisador Allysson Martins, do Laboratório de Mídias Digitais e Internet (MíDI), vinculado aos Programas de Pós-Graduação em Comunicação e em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da UNIR.
A pesquisa se concentra na Amazônia Legal, onde vivem mais de 51% dos indígenas do Brasil, e busca compreender como a saúde indígena pode ser fortalecida a partir da adaptação cultural das mensagens institucionais. Segundo o coordenador, barreiras linguísticas, culturais, territoriais e institucionais precisam ser consideradas de forma sistemática para garantir maior eficácia das ações em ambos os países.
O estudo parte da hipótese de que estratégias de comunicação que incorporam saberes tradicionais, utilizam línguas nativas e envolvem lideranças comunitárias tendem a apresentar maior adesão às medidas de prevenção. Durante a pandemia, a ausência desse cuidado contribuiu para índices elevados de infecção e mortalidade entre povos indígenas.
No Brasil, mesmo com a atuação dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), persistem desafios como o subfinanciamento e a dificuldade de integração entre práticas tradicionais e a medicina biomédica. Já na Bolívia, o Modelo Intercultural Comunitário de Saúde (SAFCI) institucionaliza essa integração, promovendo campanhas em idiomas nativos e o reconhecimento da medicina tradicional.
A metodologia adotada será o estudo de caso múltiplo, com comparações entre os dois países. Estão previstas visitas de campo ao DSEI Alto Rio Solimões, no Amazonas, à Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), em Brasília, e à região de Beni, na Bolívia, onde o diálogo intercultural teve papel central durante a crise da covid-19.
Além da produção científica, o projeto prevê a elaboração de diretrizes práticas para gestores públicos e materiais de devolutiva às comunidades indígenas, como vídeos, cartilhas e infográficos bilíngues. A expectativa é que os resultados contribuam para políticas mais inclusivas e alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente no fortalecimento da saúde indígena e na redução das desigualdades.









































