Ter um QI alto é, para muitos, sinônimo de sucesso escolar — mas um novo estudo publicado na Revista Internacional de Ciencias Sociales mostra que essa relação está longe de ser simples.
A pesquisa, conduzida pelo veterinário e especialista em neurociências Flávio Nunes, em parceria com o Pós PhD em neurociências Dr. Fabiano de Abreu Agrela e o físico e mestrando em psicologia Adriel Silva, revela que, em diversos casos, o alto QI vem acompanhado de fragilidades emocionais e dificuldades de adaptação escolar.
“A superdotação profunda não é só um indicador de capacidade intelectual, ela também pode representar uma sensibilidade extrema do ponto de vista neurobiológico, o que afeta diretamente a estabilidade emocional e, também, o desempenho escolar”, explica Flávio Nunes.
Superdotação, emoção e rendimento escolar
O estudo analisou indivíduos com QI acima de 145 pontos, classificados como superdotação profunda. Apesar de apresentarem raciocínio abstrato elevado e capacidades cognitivas superiores, mais da metade dos participantes abandonou a faculdade, mesmo após ingressar em cursos de pós-graduação.
“Identificamos que a alta intensidade sináptica presente nesses cérebros altamente conectados favorece, ao mesmo tempo, um raciocínio potente e uma vulnerabilidade emocional maior, tornando esses indivíduos mais suscetíveis ao estresse, à frustração e à desmotivação”, aponta Nunes.
O cérebro superdotado e suas armadilhas
A pesquisa também destaca que o excesso de conexões entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico — responsável pelas emoções — cria um paradoxo: quanto maior a capacidade de processamento, maior a exaustão emocional, especialmente quando o ambiente escolar não oferece o suporte adequado.
“É como ter um carro de Fórmula 1 em uma estrada de terra. A potência está ali, mas o ambiente e os ajustes são fundamentais para que o desempenho aconteça”, compara Adriel Silva.
Mais que inteligência: motivação e saúde emocional
Outro ponto relevante é o papel da motivação intrínseca e do interesse pessoal. Cerca de 44,4% dos participantes relataram que seu desempenho dependia da afinidade com a matéria — mostrando que propósito e engajamento emocional são fatores mais determinantes que o QI isolado.
O estudo também aborda os casos de dupla excepcionalidade, em que a superdotação está associada a condições como TDAH ou Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nessas situações, o alto desempenho cognitivo convive com desafios comportamentais e emocionais, exigindo abordagens educacionais personalizadas.
“Precisamos parar de associar QI alto a sucesso automático. A ciência já entende que inteligência não caminha sozinha — ela precisa de equilíbrio emocional, motivação e ambientes que respeitem a singularidade dos superdotados”, conclui Flávio Nunes.
🔗 Link do estudo: Revista Internacional de Ciencias Sociales