Manter a atenção dos estudantes em sala de aula é um dos maiores desafios da educação brasileira. Segundo dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) 2024, da OCDE, professores no Brasil dedicam, em média, 21% do tempo de aula apenas para manter a ordem. Isso significa que a cada cinco horas, uma hora é gasta em tentativas de concentrar os alunos.
Para enfrentar esse cenário, educadores têm recorrido a estratégias criativas. É o caso de Marcos Nunes, professor de matemática no Ginásio Educacional Olímpico Isabel Salgado, no Rio de Janeiro. Ele usa a melodia da música “Halo”, de Beyoncé, combinada com batucadas improvisadas, para ensinar a complexa fórmula de Bhaskara.
Estratégias inovadoras em sala de aula
O professor Marcos Nunes, com 20 anos de magistério, afirma que a estratégia de tornar a aula mais dinâmica motiva e ajuda os estudantes a gravarem o conteúdo. Ele também foca nos alunos com mais dificuldade, muitas vezes revisando conteúdos de anos anteriores para garantir que ninguém seja deixado para trás.
“Quando aquele aluno passa a entender e a conseguir resolver as questões, ele se motiva mais”, defende o professor.
No Piauí, a professora Amanda de Sousa, no Centro Educacional de Tempo Integral (Ceti) Paulo Freire, em Guaribas, usa a tecnologia para engajar os estudantes. Ela ministra a disciplina de Inteligência Artificial (IA), descobrindo que, mesmo sendo nativos digitais, os alunos não dominavam plenamente as ferramentas.
Sousa desenvolveu o conceito de “IA desplugada”. Em aulas offline, ela utiliza exemplos como a construção de árvores de decisão com imagens de animais da caatinga. Essa prática ajuda os estudantes a identificar padrões e construir algoritmos. “Quando eles veem o resultado, aí eu mostro: vocês construíram um algoritmo. Isso é inteligência artificial desplugada”, explica a professora.
Desafios na educação indígena e o foco na disciplina
Nas escolas indígenas Paiter Surui, em Cacoal (RO), a coordenadora Elisângela Dell-Armelina Surui relata que o interesse é alto nas séries iniciais, mas diminui no Ensino Médio. A preocupação da comunidade é a perda da língua e da cultura indígena quando os jovens saem para estudar fora das aldeias. A escola usa tecnologia, como vídeos de professores e alunos, para tentar manter o interesse.
Outra estratégia usada é aproximar o conteúdo do cotidiano das aldeias, estimulando o aprendizado através de práticas como o preparo de alimentos e o trabalho na roça. Segundo a educadora indigenista Maria do Carmo Barcellos, que trabalha há décadas com povos indígenas, isso simula a transmissão tradicional de conhecimentos pela oralidade e pelo fazer.
A pesquisadora Luana Tolentino, da UFMG, alerta para os dados da OCDE sobre o tempo gasto em disciplina. Para ela, focar excessivamente na ordem em sala de aula dificulta a adoção de práticas pedagógicas que envolvam os anseios dos estudantes.
“Eu defendo práticas pedagógicas em constante diálogo com as vivências, com os saberes dos estudantes. Acredito que os estudantes têm sede, têm o desejo de falar, de contar aquilo que também sabem”, diz Luana.
A desvalorização e o estresse da profissão
Os dados da OCDE sobre o Brasil revelam que apenas 14% dos professores acreditam que sua profissão é valorizada pela sociedade. Além disso, 21% afirmam que o trabalho é muito estressante.
O Brasil supera a média dos países da OCDE nos impactos da profissão na saúde. Enquanto 16% dos professores brasileiros relatam que a docência afeta negativamente a saúde mental, a média da OCDE é 10%. Essa realidade de desvalorização e adoecimento impõe um desafio adicional aos educadores que buscam transformar a vida dos alunos.