Estudantes que frequentam o ensino médio em escolas estaduais de tempo integral, com carga horária igual ou superior a sete horas diárias, obtiveram notas mais altas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024. A informação foi revelada por um estudo do Instituto Sonho Grande, que analisou os microdados do exame aplicado anualmente pelo Inep. A pesquisa mostra que a diferença mais significativa foi na redação, onde a média de notas de alunos de escolas integrais foi 12 pontos maior que a de estudantes de turno parcial. Em matemática, o desempenho também foi superior, com cinco pontos a mais.
Para a diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, Ana Paula Pereira, esses dados confirmam o que já se observava em outras pesquisas, que a educação integral promove um aprendizado mais significativo e, consequentemente, mais oportunidades para os jovens. O Instituto atua em parceria com estados para aprimorar a qualidade do ensino médio público no Brasil.
Nordeste lidera em matrículas e desempenho
O Nordeste se destaca com as cinco maiores proporções de estudantes em tempo integral matriculados na rede pública de ensino médio no Censo Escolar 2024. Pernambuco lidera com 69,6%, seguido por Ceará (54,6%), Paraíba (54,5%), Piauí (54,1%) e Sergipe (35,2%). Nessas escolas, o desempenho no Enem é superior nas quatro áreas do conhecimento e, principalmente, na redação.
Em Pernambuco, por exemplo, a performance na redação em escolas com oferta 100% integral é 68 pontos mais alta. Já no Ceará, a diferença chega a 134 pontos. A diretora Ana Paula Pereira atribui o sucesso ao investimento contínuo e à prioridade política dada ao modelo integral pelos governadores da região. “Os governadores colocaram o integral como agenda central, garantindo planejamento consistente, formação de professores e acompanhamento pedagógico contínuo”, avalia.
Desafios e o futuro da educação integral
Apesar do crescimento das matrículas em tempo integral, o Brasil ainda não alcançou a meta de 25% estabelecida pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para 2024, ficando em 22,9%. No ensino médio, o percentual subiu de 14,1% em 2020 para 24,2% em 2024.
Ana Paula Pereira aponta desafios para a consolidação da educação integral no país, como a necessidade de financiamento público contínuo, apoio financeiro direto a estudantes vulneráveis e a reestruturação das redes estaduais de educação para a expansão da oferta de vagas. Ela ressalta que o Programa Escola em Tempo Integral, do MEC, é crucial para essa expansão. A especialista defende que o Brasil deve ter metas ainda mais ambiciosas, visando pelo menos 50% das matrículas em tempo integral até 2035, e que a qualidade pedagógica seja prioridade.