O tarifaço imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras, iniciado em 6 de agosto, completa um mês e mobilizou o Brasil em negociações diplomáticas e medidas internas de apoio. A sobretaxa de 50%, decretada pelo presidente Donald Trump, afeta uma parte significativa do comércio bilateral e gerou reações no governo e no setor produtivo.
Em julho, as ameaças de Trump foram enviadas por carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, justificadas, segundo o americano, por um suposto déficit comercial com o Brasil e a perseguição política a Jair Bolsonaro. No entanto, o Brasil tem um déficit comercial de US$ 410 bilhões com os EUA nos últimos 15 anos. As autoridades brasileiras buscaram negociar, o que resultou na exclusão de cerca de 700 produtos da tarifa máxima, como os da Embraer, minérios e combustíveis.
Apesar das isenções, 35,9% das exportações brasileiras para os EUA foram afetadas pela sobretaxa de 50%. Outras vendas, que totalizam 19,5%, já tinham tarifas específicas. No total, 64,1% das exportações continuam competindo em condições semelhantes com produtos de outros países. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, estimou que o tarifaço afeta 3,3% das exportações totais do Brasil.
Respostas do Brasil ao tarifaço
Em resposta à medida americana, o governo brasileiro acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) para buscar uma arbitragem internacional. Simultaneamente, o Brasil começou a aplicar a Lei da Reciprocidade Econômica, que permite ao país adotar contramedidas tarifárias. No cenário interno, foi lançado o Plano Brasil Soberano, um pacote de R$ 30 bilhões em linhas de crédito para empresas exportadoras, além da prorrogação da suspensão de tributos.
A postura institucional do Brasil, buscando negociação e defesa da soberania, foi destacada pelo professor de Relações Internacionais, José Niemeyer. O presidente Lula rebateu as acusações de Trump e reforçou que o país não aceitará “desaforo, ofensas nem petulância de ninguém”.
Setores e estados mais afetados
Os efeitos econômicos do tarifaço já são sentidos. No primeiro mês de vigência da taxa, as exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5%. A economia de estados como o Ceará, que tem os Estados Unidos como principal destino de suas exportações, foi duramente atingida. A indústria de frutas em Petrolina (PE) e a de calçados em Franca (SP) também manifestaram grande preocupação.
A economista Lia Valls Pereira, da Uerj, concorda que a queda nas exportações de agosto é um reflexo direto da medida, e que exportadores podem ter antecipado os embarques em julho. Já o economista Matheus Dias, da FGV, afirmou que o tarifaço não teve um impacto significativo na inflação brasileira, principalmente devido à lista de produtos que foram isentos das tarifas mais altas.