A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Taxa Selic (juros básicos da economia) em 15% ao ano foi duramente criticada pelo setor produtivo. Entidades da indústria, do comércio e centrais sindicais expressaram preocupação com o impacto negativo sobre a produção, o investimento e o endividamento das famílias. A manifestação ocorreu em Brasília, após o anúncio da manutenção da taxa.
Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, classificou a decisão como “insuficiente e equivocada”, afirmando que os juros altos sufocarão a economia. Alban destacou que medidas como a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e as tarifas dos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras já representam um custo adicional significativo para as indústrias, que poderia ser compensado por uma política monetária mais favorável.
Críticas da Indústria e Comércio
A indústria e o comércio apontam que os altos juros no Brasil prejudicam o cenário de investimentos e o consumo.
Para Ricardo Alban, presidente da CNI, a elevação do IOF sobre crédito aumentará em R$ 4,9 bilhões o custo para as indústrias, enquanto as tarifas dos EUA podem causar queda na produção industrial e perda de milhares de empregos. “O momento pede uma política monetária mais favorável. Precisamos de menos juros e mais crescimento”, ressaltou. A Associação Paulista de Supermercados (Apas) também considerou alto o nível dos juros atuais, apesar das tensões internacionais. Felipe Queiroz, economista-chefe da Apas, alertou que a manutenção da Taxa Selic nesse patamar irá “prejudicar os investimentos, o consumo das famílias; aumentará o custo do crédito e afetará diretamente o nível de atividade econômica do país”.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) reconheceu que os juros estão altos, mas avaliou que a inflação ainda está acima da meta de 4,5% em 12 meses. O economista Ulisses Ruiz de Gamboa, da ACSP, explicou que a política monetária mais cautelosa se justifica pela inflação acumulada, expansão fiscal e incertezas externas decorrentes da política comercial norte-americana.
Posição das Centrais Sindicais
As centrais sindicais reforçaram as críticas, apontando que a alta da Taxa Selic penaliza os trabalhadores e beneficia o setor financeiro.
A decisão do Banco Central foi mal recebida pelas centrais sindicais. Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a nova elevação da Taxa Selic dificulta a vida das famílias e mantém um esquema que transfere recursos de consumidores, empresas e do Estado para o setor financeiro. Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, destacou que a Selic elevada mantém o Brasil na liderança do ranking com os maiores juros do mundo, penalizando a população e não sendo o único instrumento eficaz para os tipos de inflação que o Brasil enfrenta. A Força Sindical, em nota, lamentou a manutenção da taxa, classificando-a como “absurda”. Miguel Torres, presidente da entidade, criticou que os juros altos favorecem apenas os especuladores e prejudicam o trabalhador, argumentando que o Banco Central perdeu a oportunidade de reduzir drasticamente a taxa para estimular a criação de empregos e o aumento da produção no país.