A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o país norte-americano, pode gerar sérios impactos no agronegócio do Brasil. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, alertou que essa medida pode comprometer receitas, desequilibrar mercados e pressionar os valores pagos aos produtores brasileiros.
Produtos Mais Afetados
Os pesquisadores do Cepea indicam que o suco de laranja, o setor cafeeiro, a pecuária de corte e o de frutas frescas são os itens mais vulneráveis a essa nova política tarifária.
O suco de laranja é considerado o produto mais sensível. Já existe uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada, e a sobretaxa de 50% aumentaria significativamente o custo de entrada nos EUA, afetando a competitividade brasileira no segundo maior destino de suas exportações. Os Estados Unidos importam cerca de 90% do suco que consomem, sendo o Brasil responsável por 80% desse total. A professora Margarete Boteon, do Cepea, expressou preocupação com o acúmulo de estoques e a pressão sobre as cotações internas, especialmente em um momento de boa safra em São Paulo e Triângulo Mineiro.
Impactos no Café e Carne Bovina
Para o café, os Estados Unidos são o maior consumidor global e importam cerca de 25% do Brasil, principalmente o café arábica. Como os EUA não produzem café, o aumento do custo de importação pode comprometer toda a cadeia interna, incluindo torrefadoras e cafeterias. Renato Ribeiro, pesquisador de café do Cepea, enfatizou que a exclusão do café do pacote tarifário é estratégica para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira e a estabilidade do abastecimento norte-americano. Produtores brasileiros estão adiando grandes negociações à espera de definições sobre o cenário tarifário.
No setor de carne bovina, os Estados Unidos são o segundo maior comprador, atrás apenas da China. Empresas americanas respondem por 12% das exportações brasileiras. Houve uma redução recente no volume exportado para os EUA, enquanto as vendas para a China e outros parceiros têm crescido, indicando que frigoríficos brasileiros podem redirecionar suas vendas para outros mercados.
Preocupação com Frutas Frescas
No mercado de frutas frescas, o impacto inicial recai sobre a manga, cuja janela crítica de exportação para os EUA começa em agosto. Já há relatos de adiamento de embarques. A uva brasileira também está em alerta, com sua safra relevante para os EUA a partir de setembro. A expectativa inicial de crescimento nas exportações de frutas foi substituída por incertezas, com risco de retração nas vendas para os EUA e desequilíbrio entre oferta e demanda em outros destinos, o que pode pressionar o preço ao produtor. As frutas que seriam destinadas aos Estados Unidos podem ser direcionadas para a União Europeia ou absorvidas pelo mercado interno.
Diante desse cenário, o Cepea ressalta a urgência de uma articulação diplomática coordenada para a revisão ou exclusão das tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros. A medida é vista como estratégica não apenas para o Brasil, mas também para os próprios Estados Unidos, que dependem substancialmente do fornecimento brasileiro para sua segurança alimentar e competitividade agroindustrial.