O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou nesta quinta-feira (10) em Brasília que a imposição de tarifas comerciais sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos (EUA) será “desastrosa” para quem a promoveu. Haddad enfatizou que essa situação não deve se sustentar, classificando o “ataque ao Brasil” como algo desprovido de racionalidade econômica.
Em entrevista ao Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, o ministro foi enfático: “Não há outra explicação: esse golpe contra o Brasil, contra a soberania nacional, ele foi urdido por forças extremistas de dentro do país. Como eu acredito que o tiro vai sair pela culatra, acredito que isso não pode se sustentar”. A medida foi anunciada na quarta-feira (9) pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impondo uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. No documento, Trump justifica a ação citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Implicações Políticas e Econômicas do Tarifaço
Fernando Haddad vinculou diretamente a ação de Trump a questões políticas internas brasileiras. “A única explicação plausível para o que foi feito ontem é porque a família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil, com um objetivo específico, que é escapar do processo judicial que está em curso. Então, a única explicação é de caráter político envolvendo a família Bolsonaro”, afirmou o ministro, lembrando que o filho do ex-presidente, deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), residente nos EUA, tem se manifestado publicamente sobre tais intenções.
O ministro prevê sérias consequências para os idealizadores da medida. “O resultado desse tipo de ação vai ser desastroso para quem promoveu, não vai ser bom para quem promoveu. Isso vai trazer implicações graves que não interessam a ninguém. Então, nós temos que buscar pela diplomacia, fazer ver que isso não interessa e talvez quem ajudou a promover esse ataque ao Brasil vai acabar se arrependendo e se mexendo para tentar reparar, com uma retórica totalmente torta, o estrago que já fez”, acrescentou.
Haddad também criticou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por defender as ações do ex-presidente, ressaltando que o estado será um dos mais afetados pelas tarifas norte-americanas. Produtos como suco de laranja, máquinas e aeronaves (produzidos pela Embraer) estão entre os principais itens da pauta brasileira exportada para os Estados Unidos. “A extrema-direita vai ter que reconhecer, mais cedo ou mais tarde, que deu um enorme tiro no pé, porque está prejudicando o principal estado do país, justamente o estado de São Paulo. É o suco de laranja de São Paulo, são os aviões produzidos pela Embraer, que é uma conquista histórica da tecnologia brasileira. Eu penso que o governador errou muito porque, ou bem uma pessoa é candidata a presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem. Desde 1822 isso acabou”, reforçou o ministro.
Resposta do Brasil e Defesa do Multilateralismo
Haddad expressou a esperança de superar o incidente. “Eu creio que foi um dia ruim e que nós vamos ter que encontrar um caminho de superar e esquecer que ele aconteceu para boa relação entre dois povos que se gostam”, disse o ministro, destacando a complementaridade das economias e os 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.
O presidente Lula já defendeu a soberania do país e afirmou que o tarifaço de Trump será respondido com a Lei de Reciprocidade Econômica. Segundo Haddad, líderes de diversos setores produtivos estão “de cabelo em pé”, buscando apoio do governo para lidar com a situação. O ministro reafirmou a aposta na diplomacia brasileira, reconhecida globalmente como uma das mais profissionais, que buscará uma solução “em bases econômicas que sejam edificantes para as duas nações”.
“É uma agressão que vai ficar marcada como uma coisa inaceitável e inexplicável, um governo entrar na onda de um político extremista local para atacar um país, 215 milhões de habitantes. Nós temos, nesse momento, que estar unidos, o setor produtivo, o agronegócio, com a indústria paulista que é a mais afetada”, afirmou.
A decisão de Trump ocorre na mesma semana em que ele e Lula trocaram críticas sobre a cúpula do Brics no Rio de Janeiro, com Trump chegando a ameaçar países alinhados ao grupo, o que agora se concretiza no caso brasileiro. Haddad defendeu o multilateralismo e negociações comerciais diversificadas, ressaltando que o Brasil é “grande demais para ser apêndice de bloco econômico”. “Nós não estamos dando mais ou menos espaço para quem quer que seja. O Brasil está buscando parcerias para se desenvolver com a maior tranquilidade, com o maior pragmatismo possível”, disse. Ele concluiu explicando a visão brasileira sobre a “reglobalização sustentável”, em contraste com a globalização neoliberal, que, segundo ele, produziu grandes desequilíbrios e favoreceu a ascensão da China na guerra comercial com os EUA.