O mês de junho de 2025 trouxe um alívio para o bolso dos brasileiros: a primeira queda no preço dos alimentos depois de nove meses. Esse movimento contribuiu para que a inflação oficial perdesse força pelo quarto mês seguido, fechando junho em 0,24%. No entanto, a imposição da bandeira vermelha na conta de energia elétrica fez a conta de luz subir, tornando-se o subitem que mais pressionou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta quinta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Rio de Janeiro.
Em junho do ano passado, a inflação oficial havia sido de 0,21%. Desde fevereiro de 2025, quando marcou 1,31%, o IPCA tem desacelerado sucessivamente: 0,56% em março, 0,43% em abril, 0,26% em maio e agora 0,24% em junho. Apesar dessa sequência de meses de desaceleração, ou seja, com a inflação cada vez menor, o IPCA acumulado de 12 meses alcançou 5,35%. Isso significa que, pelo sexto mês seguido, o índice ficou acima do teto da meta do governo, que é de até 4,5%. Esse período de seis meses acima do limite configura o estouro da meta. Em abril, o acumulado atingiu o ponto mais alto do ano, 5,53%.
Comportamento dos Grupos de Preços
Dos nove grupos de preços apurados pelo IBGE, apenas um apresentou queda, o de alimentos e bebidas (-0,18%), com impacto de -0,04 ponto percentual (p.p.) no índice geral.
Confira o comportamento detalhado dos grupos em junho:
Índice geral: 0,24% (0,24 p.p.)
Alimentação e bebidas: -0,18% (-0,04 p.p.)
Habitação: 0,99% (0,15 p.p.)
Artigos de residência: 0,08% (0,00 p.p.)
Vestuário: 0,75% (0,04 p.p.)
Transportes: 0,27% (0,05 p.p.)
Saúde e cuidados pessoais: 0,07% (0,01 p.p.)
Despesas pessoais: 0,23% (0,02 p.p.)
Educação: 0,00% (0,00 p.p.)
Comunicação: 0,11% (0,01 p.p.)
Destaques e Influências nos Preços
O grupo de alimentação, que foi o grande vilão da inflação nos últimos meses, foi impactado positivamente pela alimentação no domicílio, que saiu de 0,02% em maio para uma queda de 0,43% em junho. Os subitens que mais contribuíram para essa baixa foram ovo de galinha (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas (-2,22%). De acordo com Fernando Gonçalves, gerente do IPCA, bons resultados da safra atual aumentaram a oferta de alimentos, explicando a queda nos preços. O café, que subiu 0,56% em junho (bem abaixo dos 4,59% de maio), ainda acumula uma alta expressiva de 77,88% em 12 meses. Já a alimentação fora do domicílio desacelerou para 0,46% em junho, vindo de 0,58% em maio.
Por outro lado, o subitem que mais impulsionou o IPCA para cima foi a energia elétrica, que registrou alta de 2,96% no mês, impactando em 0,12 p.p. Essa elevação se deve principalmente à bandeira vermelha patamar 1, que adiciona R$ 4,46 a cada 100 quilowatt-hora consumidos. A bandeira tarifária vermelha é uma medida do governo em um cenário de final do período chuvoso, onde a previsão de geração de energia hidrelétrica piorou. Isso pode demandar um maior acionamento de usinas termelétricas nos próximos meses, que fornecem energia mais cara. Além da alteração tarifária, o IBGE apurou reajustes nas contas de luz em cidades como Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro. Fernando Gonçalves ressaltou: “se tirássemos a energia elétrica do cálculo, o IPCA ficaria em 0,13%”.
O grupo dos transportes também teve alta relevante no mês (0,27% e impacto de 0,05 p.p.). Dentro desse grupo, os combustíveis caíram (-0,42%), mas houve uma alta expressiva no transporte por aplicativo (13,77%).
O índice de difusão no mês foi de 54%, o que significa que dos 377 produtos e serviços pesquisados, 54% tiveram alta de preço. Esse é o menor patamar desde julho de 2024 (47%). Em abril, o índice chegou a 67%.
INPC e Sua Relevância
O IBGE também divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que ficou em 0,23% em junho e acumula 5,18% em 12 meses. A principal diferença entre o INPC e o IPCA é que o INPC apura a inflação para as famílias com renda de até cinco salários mínimos, enquanto o IPCA se destina a lares com renda de até 40 salários mínimos. Atualmente, o salário mínimo é de R$ 1.518.
O IBGE confere pesos diferentes aos grupos de preços pesquisados em cada índice. No INPC, por exemplo, os alimentos representam 25% do índice, mais do que no IPCA (21,86%), pois as famílias de menor renda gastam proporcionalmente mais com comida. Na ótica inversa, o preço da passagem de avião pesa menos no INPC do que no IPCA. O INPC influencia diretamente a vida de muitos brasileiros, uma vez que o acumulado móvel de 12 meses costuma ser utilizado para o cálculo do reajuste de salários de diversas categorias ao longo do ano.