Por Wanglézio Braga
O Mercado Central de Porto Velho, localizado no coração da capital, traz no seu interior entre um box e outro um espaço avelhantado, porém, precioso para os amantes da música. O ambiente que lembra mais uma discografia americana dos anos 70, 80 e 90 é conduzida pelo aposentado Manoel Mirando, o seu Miranda, de 78 anos, nascido no Ceará e radicado porto-velhense há pelo menos 50 anos.
Ele começou o ofício como empregado em 1974, passou por muitas bancas, inclusive sendo sócio de algumas, até conseguir a permissão para ter o próprio negócio.
“Eu vi de perto as reformas desse lugar. Em 1978, depois 1992, outra em 2011, sendo essa última reforma (…) Em 1977 eu recriei esse box que tem 44 anos. Esse box ajuda na complementação da renda da minha família. Eu sou aposentado, como contribuinte, e o dinheiro que sai daqui ajuda bastante a sustentar meus filhos e netos”, comenta.
A paixão pela música remete às raízes nordestinas, mas foi em Porto Velho que ele aprendeu a apreciar a música e fazer dela o seu ganha pão. Nesse tempo todinho, seu Miranda acompanhou a evolução dos meios e as formas de escutar músicas. Da vitrola, passando pelos rádios K-7, seguindo para os tocadores de LaserDisc até o atual, da era da internet, pelo próprio celular no formato MP3.
“Antes do CD eu trabalhei, há pelo menos 10 anos, com a venda de discos de vinil. Depois veio o CD com uma tecnologia muito avançada à época. Os negócios não estavam indo bem, com um tempo, resolvi montar uma mercearia em sociedade com um amigo, só que não durou muito tempo. Em 2003 voltei pra paixão antiga, o disco”, relata.
No box do seu Miranda, na última contagem, foram contabilizados 8 mil discos de vinil e lógico, entre uma pilha e outra, alguns raros que valem uma nota no mercado dos colecionadores. O destaque principal vai para o álbum do Rei Pelé (Seus gols e sua vida) que narra a história do futebolista brasileiro com faixa de músicas de sua autoria.
“Hoje é muito diferente. As pessoas não querem nem mais o CD, querem o pen-drive e esquecem de apreciar o visual também. As capas dos discos também são uma forma de ouvir a música, apreciá-las. Os discos não podem acabar. Isso é cultura. Para quem não conhece, os discos são meros objetos velhos, mas os apreciadores amam ouvir o som que sai das vitrolas”, disse.
Seu Miranda recebe diariamente, vários clientes de todas as idades. Pasme! A maioria são jovens. “Eles querem discos. Não querem mais CD. Faço questão de separar toda semana alguns cantores e bandas como Elvis Presley, Pink Floyd, Red Hot Chili Peppers e The Beatles. São discos caros que eles (jovens) compram da gente”, frisou.
Os preços dos LPS variam de acordo com o ano, a condição da capa e do próprio disco. Em média são negociados a R$ 15 reais, mas seu Miranda conseguiu supervalorizar, em algumas vendas, algumas relíquias. “Já vendi um álbum a R$ 200 reais. No mercado dos colecionadores, o valor é muito mais alto do que estamos vendo. Meu objetivo não é lucrar, meu objetivo é fazer valer essa cultura e não deixar ela morrer”, finalizou.