Uma das principais características da pecuária brasileira é a falta de gestão no sentido mais amplo. Tudo é muito genérico e superficial. Números e dados sobre o rebanho são, em sua maioria, baseados no “achômetro” ou obtidos por critérios subjetivos ou sem consistência. O preço disso é o empilhamento de custos e dívidas, trocando seis por cinco ou até menos.
A lucratividade na pecuária de corte é a relação entre o lucro obtido com a venda do boi para o frigorífico, e os custos envolvidos na produção, ou seja, a lucratividade é diretamente proporcional à capacidade que o produtor tem em transformar o bovino de corte em retorno financeiro.
O sistema extensivo de criação de bovinos é o modelo de manejo mais tradicional, amplamente utilizado no Brasil, mas é exatamente o modelo que está inviabilizando o futuro da nossa pecuária, pois os resultados são baixos e demoram demais para acontecer, diante de um mercado que exige produtividade, eficiência e gestão com aplicação de tecnologias.
Aqui vou listar sete dos principais fatores, que representam a essência para a geração de lucratividade com uma boa margem de segurança na pecuária de corte.
1. Eficiência Reprodutiva
A eficiência reprodutiva é um dos principais determinantes da lucratividade na pecuária de corte, pois afeta diretamente a taxa de reposição do rebanho e o número de bezerros produzidos por vaca. Quanto maior a taxa de concepção e menor o intervalo entre gerações, maior a produção de carne no longo prazo.
- Taxa de Concepção: No Brasil, a taxa de concepção gira em torno de 45% a 60% nos rebanhos comerciais bem manejados, podendo ser mais alta em rebanhos de elite com o uso de tecnologias como a Inseminação Artificial (IA) e Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF).
- Intervalo entre partos: O intervalo entre partos é crucial para maximizar a produção de carne, com o objetivo de diminuir o tempo entre as gerações. No Brasil, o intervalo médio entre partos é de 14 a 16 meses, sendo o ideal para a pecuária de corte de 12 meses.
2. Custo de Produção
O custo de produção é um dos fatores mais impactantes na lucratividade, pois está diretamente relacionado à eficiência na conversão de recursos em carne. Alguns custos críticos incluem:
- Custo com alimentação: Em sistemas de pastagem, o custo de suplementação pode variar muito dependendo da qualidade da pastagem e da disponibilidade de forragem. Em sistemas intensivos (como feedlot), os custos com ração concentrada são maiores, mas a produção de carne por animal também é mais eficiente.
- O custo de alimentação é responsável por 60% a 70% do custo total de produção em sistemas extensivos, podendo chegar a 90% em sistemas intensivos de terminação.
- Custos com saúde e manejo: A sanidade do rebanho também é um fator relevante. Doenças e tratamentos veterinários podem representar uma parte pequena mas crucial em função da minimização de riscos. Um animal em situação de risco pode comprometer todo o rebanho.
3. Taxa de Crescimento e Idade de Abate
A taxa de crescimento e a idade de abate também são determinantes cruciais da lucratividade. Animais que atingem o peso de abate mais rapidamente (por exemplo, em 24 a 30 meses) significam que a operação está gerando maior quantidade de carne por unidade de tempo.
- Idade de abate ideal: No Brasil, no gado de corte ocorre tipicamente entre 24 a 30 meses (para o sistema extensivo), enquanto nos EUA, com sistemas mais intensivos, o abate pode ser feito em 18 a 20 meses devido ao sistema de alimentação concentrada e eficiente.
4. Rendimento de Carne (e Qualidade da Carne)
O rendimento de carne, que é a quantidade de carne aproveitada da carcaça, afeta diretamente a lucratividade. A produção de carne com alta qualidade e boa apresentação pode agregar valor ao produto final, principalmente com carnes com marmoreio (gordura intramuscular).
- O rendimento da carcaça e o rendimento de carne afetam a lucratividade, mas em menor grau do que a eficiência reprodutiva e os custos operacionais, mas pode afetar quando a conta for sobre a rentabilidade.
5. Eficiência no Uso de Pastagens e Terra
A eficiência no uso de pastagens também é um fator fundamental para determinar a lucratividade da pecuária de corte. Em sistemas de pastagem, a qualidade da forragem e o manejo adequado das áreas de pastagem (com o uso de técnicas como o pastejo rotacionado) podem otimizar o uso de áreas de terra e melhorar a produtividade por hectare.
- Rendimento por hectare: Em sistemas de pastagem extensiva no Brasil, a produtividade varia tipicamente entre 90 a 150 kg de peso vivo por hectare/ano (ou cerca de 45 a 75 kg de carcaça/ha/ano).
- Com algum manejo e pastagens melhoradas, esse valor pode se elevar para 150 a 300 kg de peso vivo/ha/ano (≈ 75 a 150 kg de carcaça/ha/ano).
- Degradação de pastagem: A degradação de pastagem em áreas mal manejadas pode reduzir drasticamente a produtividade e aumentar os custos operacionais. No Brasil, cerca de 50% dos pastos estão degradados, portanto, de um lado a produtividade é muito baixa, de outro há enorme potencial de crescimento.
- Sistema de Gestão
Atualmente, para obter resultados efetivos na pecuária de corte, mensurados pela lucratividade, só é possível através da utilização de tecnologia que ofereça cobertura total dos processos da fazenda.
Assim, é fundamental ter um software de gestão pecuária para gerar organização e controle em diversas áreas da produção como a gestão reprodutiva, o controle do rebanho, gestão de insumos, nutrição, pastos, controle zoossanitário e geração de planilhas financeiras. Eu recomendo fortemente que você utilize o iRancho, que é um dos, senão o melhor do país na atualidade.
- Monitoramento Sistemático
De todos os seis itens anteriores, este é a chave para acompanhar, sistematicamente, o que acontece e quando acontece, para tomar decisões sobre situações reais em tempo real. Por isso, manter o monitoramento sistemático é essencial, pois os dados do rebanho podem ser alterados diariamente em função de diversos fatores.
Ter a mão e o pulso sobre a gestão da fazenda e tomar decisões em função dos dados, informações, números e situações, oferece notável segurança e promove o refinamento de todas as operações e processos para garantir a melhor rentabilidade.
Mais ainda, a experiência demonstra claramente que, ao tomar a gestão como fator decisivo para os resultados, há uma evolução de performance em diversas frentes e processos do negócio, tornando o desafio uma escola que oferece aprendizagem permanente e portanto, capacidade de mudança.