Prevenir é proteger, proteger é garantir que o ativo pecuário seja transformado em carne e leite. Essa sequência lógica não é tão clara para boa parte dos produtores, por que não temos cultura de prevenção no país. Mas é fundamental que essa falta de cultura, quase ignorância, seja modificada para trazer nossa pecuária para o primeiro mundo.
O Brasil realizou sua última vacinação oficial contra a febre aftosa em maio de 2024, e submeteu à OMSA Organização Mundial de Saúde Animal o pedido de reconhecimento do status de país livre da doença sem vacinação. Esse marco reforça a necessidade de uma vigilância sanitária rigorosa e de um plano de contingência eficiente, no qual a qualificação do Sistema de Rastreabilidade Individual de Bovinos e Bubalinos desempenha um papel fundamental.
É importante salientar o papel significativo do Estado de Rondônia nesse processo, por ter sido apontado como um exemplo mundial do esforço conjunto para erradicar a febre aftosa, e tornar o estado livre dessa doença que causa enormes prejuízos à pecuária em todo o mundo. A origem desse sucesso nasceu do enorme esforço de produtores de Rondônia que se mobilizaram e viabilizaram a criação do FEFA Fundo Emergencial de Febre Aftosa.
Diante desse cenário, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) lançou, em 17 de dezembro de 2024, o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB), regulamentado pela Portaria SDA/MAPA nº 1.331, de 21 de julho de 2025. A iniciativa visa aprimorar a rastreabilidade do rebanho brasileiro com foco na segurança sanitária, promovendo a identificação individual e o monitoramento da movimentação dos animais.
A qualificação do sistema de rastreabilidade individual é essencial para assegurar a segurança sanitária do rebanho, permitindo a identificação rápida e eficaz de possíveis problemas e a adoção de medidas preventivas e corretivas ágeis. Além de fortalecer a confiança dos consumidores e dos mercados internacionais, garantindo a origem e o histórico dos animais, um sistema rastreável e confiável atende às exigências de certificação e amplia o acesso a mercados mais rigorosos.
Essa modernização também contribui para a eficiência da produção, aumenta a competitividade do setor e promove a sustentabilidade e transparência em toda a cadeia produtiva. É preciso ressaltar que, não apenas os mercados internacionais exigem segurança alimentar rastreável, mas o mercado nacional tem se tornado exigente em diversas regiões, e os consumidores cada vez mais têm interesse em saber sobre a origem e o histórico dos cortes de compra.
A rastreabilidade individual não é apenas um requisito de mercado, mas especialmente porque vai proporcionar confiança e agilidade na resolução dos casos sanitários. Como exemplo, citamos os impactos sobre os preços da arroba do boi gordo em situações de suspensão das exportações de carne bovina para a China (auto embargo), como verificado nos casos atípicos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) no Brasil.
Sim, questões sanitárias ocorrem e a rapidez na resposta, não apenas para a contenção das doenças, mas também para preservar clientes e mercados tão duramente conquistados, tornam a rastreabilidade a ferramenta qualificada essencial para o controle em qualquer nível da atividade pecuária, desde a reprodução à cria, recria, engorda, abate e distribuição para qualquer lugar do mundo.
A partir dos dados de rastreabilidade, muito rapidamente produtores, frigoríficos e distribuidores poderão oferecer dados com níveis de detalhes como tipo do animal, sexo, idade ao abate, tipo e qualificação do corte, localização das propriedades pelas quais o animal passou desde o nascimento, todo o histórico de manejo nutricional e de sanidade, aonde foi abatido e sob quais condições.
Em milhares de pontos de venda por todo o país já é possível identificar cortes especiais de bovinos com um bom nível informacional e que auxilia os consumidor nas decisões de compra, em especial para atender não apenas a requisitos de segurança alimentar, mas sobre a origem, o tratamento e as condições de vida do animal.