Uma professora trans de Brasília deu a volta por cima com categoria. Ela trocou a indenização de R$ 20 mil que receberia na justiça, por aulas para as pessoas que a agrediam verbalmente. Sim, ela mesma foi dar aula para os cidadãos que a xingavam.
O acordo foi homologado no 6º Juizado Cível de Brasília depois que Natalha do Nascimento venceu uma ação contra a empresa onde ouvia as agressões verbais, físicas e psicológicas.
Toda vez que a professora de matemática passava em frente à pastelaria Viçosa na rodoviária do Plano Piloto, ela ouvia xingamentos dos funcionários, por conta da sua identidade de gênero.
A Pastelaria pediu desculpas à população, demitiu o suspeito de agressão e assumiu a falha nas redes sociais.
A aula
Na sexta, 24, a mulher trans ficou frente a frente com seus agressores. Desta vez, para ministrar uma palestra, na qual ensinou a eles como terem respeito por pessoas diferentes.
Acostumada a dar aulas, Natalha transformou o auditório do Fórum Desembargador José Júlio Leal Fagundes em uma sala de colégio.
Diante de 40 trabalhadores da pastelaria, a professora falou durante uma hora sobre o que eles precisavam saber para respeitar uma pessoa trans.
Aspectos biológicos e comportamentais dos transgêneros
Modelos sociais
Direitos
Violência aos desiguais
A importância das denúncias contra atos discriminatórios
E atendimento ao público
Missão cumprida
Ao encerrar a “palestra-aula”, como prefere definir o encontro, Natalha diz ter se emocionado. O sentimento, segundo ela, era de “missão cumprida”.
Alguns alunos, com olhos marejados, foram abraçar a professora trans.
“Me emocionei quando lembrei das minhas amigas que morreram sem nunca terem ouvido falar em ‘nome social’ ou identidade de gênero. E reconheci os avanços que, mesmo tarde, vieram”, disse ela ao G1.
“A educação é o eixo da desconstrução da violência”, afirmou.
A luta
Natalha disse que enxergou o momento como uma forma de unir forças para lutar contra a discriminação e as agressões que os transgêneros enfrentam, diariamente, no Brasil.
“Desejo que todos eles sejam felizes, sigam a vida de forma ordeira e que consigam levar esse aprendizado para a vida. Consigam ser multiplicadores da generosidade, do respeito e da desconstrução da violência dos vulneráveis.”
O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Dados do Grupo Gay da Bahia mostram que, em 2016, 127 pessoas trans foram mortas – uma a cada 3 dias.
A expectativa de vida delas é de 35 anos – menos da metade da média nacional, que é de 75 anos.