Sobre os marcadores estéticocorporais, o geógrafo e escritor rondoniense Almeida Silva, define que são aqueles que tem relação direta com o indígena, representam a própria identidade cultural que carrega no corpo e no espírito e revela a relação íntima com a espiritualidade, com a natureza e consigo mesmo.
Nesse sentido, e procurando demonstrar a relevância desses marcadores no contexto dessas coletividades, o mesmo autor cita como exemplo: “as pinturas para a guerra ou na celebração de rituais (…), colares, pulseiras, a disposição do corte de cabelo, que são expressões claras do pertencimento cultural”. Ele esclarece ainda que esses marcadores “ficam evidenciados e presentificados de maneira especial em manifestações ritualísticas – cruzes, crucifixos, entre outros – e festas religiosas. Como exemplo, situamos os casos dos exotéricos e culturas africanas e hindus”.
Nas populações tradicionais dos seringais amazônicos, em vez de marcadores “estéticocorporais”, denominaremos aqui de “marcadores instrumentais” de trabalho do seringueiro que sempre fizeram parte da cotidianidade dos seringais e de suas colocações. Vários utensílios pessoais de trabalho, utilizados principalmente nas atividades de extração do látex, constituíram – se como importantes aspectos desses marcadores.
Como exemplos, citaremos aqui, alguns utensílios que o seringueiro utilizava em seu corpo para realizar esse processo de extração, tais como, a faca de seringa (uma lâmina estreita de aço, com uma das extremidades afiada e curvada e a outra com um pequeno gancho que se encaixa na cabrita); a cabrita (lâmina de aço com uma extremidade curvada para encaixar a faca de seringa e a outra presa a um cabo de madeira com aproximadamente 30 cm de comprimento); a poronga é uma lamparina com armação para encaixar na cabeça do seringueiro, de fabricação artesanal e feita de flandre.
O sapato de seringa, era também, outro importante marcador instrumental utilizado diariamente pelo seringueiro, desde a extração e colha do látex na estrada de seringa, até a defumação da borracha no buião, instalado no tapiri.
Como podemos observar o homem seringueiro com seus utensílios de trabalho nos apresenta uma diversidade de experiências pessoais que retratam as singularidades de vivências socioespaciais inseridas no cotidiano de suas colocações. Dessa forma, as descrições acima mencionadas, constituem importantes marcadores territoriais da Amazônia brasileira que continuam imbricados no rico imaginário dos povos da floresta.