A embelecida mata amazônica tornou-se mais deslumbrante com a complacente e obstinada chegada dos soldados da borracha. Nesse vivificante enleamento do homem com a natureza, a territorialidade seringueira surge de forma iniludível, como a mais generosa esperança de cessar a fome daqueles que a tratavam com o mais peculiar sentimento de devoção.
A fecunda e frondosa árvore seria tratada, a partir daquele momento, através de uma honradez ontológica humana advinda do pertencimento seringueiro. Nessa complacente reciprocidade florestal, ambos se imbricavam na imaculada arte do corte e da colha.
No espaço e tempo, a vivência deu à luz ao lugar, e nessa peculiar e plural poética estetizante, o espaço vivido é transcendentalmente entranhado ao ser com toda a força divinal de uma devaneante exuberância cósmica amazônica.
Nesse imaginário privilegiado, a mãe-da-seringueira observa, a mãe-d’água canta, o caboclinho-da-mata cuida, o velho-da-canoa orienta e o boto encantador deseja. São essas exaltações míticas da alma que organizam e humanizam o espaço de ação, que enriquecem a memória coletiva, que estreitam as relações do homem com a terra, que vivificam as encantarias florestais, e que alimentam a substância ontológica do ser.
No caminhar devaneante da vida, essas relações foram dilaceradas por concepções estereotipadas e estigmatizadoras da sociedade envolvente, o mundo ancestro-cosmogônico passou por despóticas rupturas, representações e simbolizações foram extirpadas da alma, enquanto as almas desalojadas do lugar continuam nos seus rituais míticos, venerando os silenciados da borracha.