Por Etiene Gonçalves
Com um trabalho iniciado nos anos 2000, os professores doutores Edson Aparecido de Araújo Querido Oliveira e Monica Franchi Carniello, responsável pela turma de mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté (Unitau) em parceria com a Faculdade Porto/FGV, estão no estado de Rondônia. Segundo os professores, com a dedicação aos estudos já é possível perceber a trajetória de desenvolvimento de Rondônia em vários aspectos, sobretudo por estar localizado em uma região de novas oportunidades, fronteira de negócios, principalmente pelos países latino-americano e, além disso, é um dos Estados que mais cresce na Federação e não está endividado.
Segundo Edson Querido, entre outros segmentos, percebe-se que Rondônia se desponta no agronegócio, mas que ainda pode “abrir os olhos” para outras áreas como, por exemplo, a energia, a inovação no agronegócio com a implantação de infraestrutura de máquinas pesadas. “Tudo é uma fronteira de estudos. Sem contar com as questões sociais, levando da premissa que a construção das Usinas [Jirau e Santo Antônio] gerou um desequilíbrio social significativo, sobretudo na capital e região metropolitana. Isso reflete nos estudos e nos faz conhecer melhor a dinâmica destes desequilíbrios e entender melhor como a população tem se comportado e o que o Poder Público pode fazer”, disse.
As contribuições dadas pelas pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional da Unitau, a partir das pesquisas de seus mestrandos servem como orientativas para buscar as melhores práticas que poderiam ser aplicadas pelo Estado para acelerar e para amadurecer o desenvolvimento que ele tem apresentado nas duas últimas décadas.
Para Edson Querido, há várias potencialidades, mas o próprio Estado já tem procurado incentivá-las com suas ações. “As vias de comunicação e os meios de escoamento da produção ao Sudeste, por exemplo, e até mesmo a exportação é o ponto crítico e limitador, pois a grande oportunidade está atrelada à logística pesada (integrada com vários modais) operando em conjunto e dando sustentação a essas cadeias produtivas que não nasceram aqui como a da piscicultura, da carne, processamento de grãos, inclusive a parte do turismo”.
Rondônia está no Portal da Amazônia e, se bem explorado no que se refere à questão turística abre uma nova perspectiva ao desenvolvimento do Estado. A avaliação feita pela professora Monica Franchi é que ele “tem uma potencialidade que precisa ser melhor desenvolvida, dado os atrativos naturais e históricos”, detalhou levando em consideração que é recente, mas guarda uma série de particularidades.
De acordo com a professora Mônica Carniello, a sociedade vive um momento muito frágil da comunicação pública governamental como um todo pela fragilidade das instituições políticas dado ao cenário recente brasileiro. “A comunicação é por si só paradoxal, pois ela é necessária para o processo de desenvolvimento, mas pode ser apropriada como um instrumento de dominação. A grande questão é como utilizar e estabelecer uma estrutura de comunicação em todos os níveis desde a midiática, quanto dela entre os grupos sociais que seja favorável aos processos de desenvolvimento”, questionou. Ela defendeu as premissas conceituais desta “conversação” que passam, por exemplo, pela apropriação do uso da comunicação pela sociedade para que ela não seja unilateral.
Segundo a professora, a comunicação ocorre de maneira bem heterogênea quanto a eficácia dos veículos locais pela sua relevância. “Eles vão cobrir questões da realidade local que talvez não atingem os critérios de noticiabilidade para uma escala nacional pelos grandes grupos de rede. O fomento para os veículos de comunicação de local tanto comerciais quanto os comunitários/públicos são essenciais para que as pessoas tem que se espelhar da própria realidade”.
Mais de 1.550 milhões de pessoas vivem em Rondônia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE, 2010], sendo um Estado relativamente grande, ainda assim, segundo o Dr. Edson Querido, existe uma simetria de desenvolvimento, de informações. “Por exemplo, os municípios lá do Sul do Estado são bastante desenvolvidos e atrelados à economia do Sudeste e do Centro-Oeste e os municípios do Norte do Estado são mais atrelados ao Acre, Amazonas e até a Bolívia. Enfim, existe um grande vazio entre o Norte e Sul de Rondônia, de informações, que chega aqui, na capital”, avaliou.
“O Poder Público, às vezes, não vê a dimensão do próprio Estado. Apesar da criação das regionais [que adiantou e melhorou a comunicação entre o Governo com os Municípios], mas ainda isso é incipiente se a gente pensar numa dimensão maior. Uma parte deste Estado por ser uma classe mais carente, com mais dificuldade de informação é pouco esclarecida nas exigências daquilo que teria no mínimo às condições de vida, que seria habitação, saneamento, segurança alimentar, saúde”, elencou. “Deve-se levar em conta que, agora, estando na fase de ascensão do Estado é o momento ideal para este planejamento tornando mais amplo no ponto de vista da gestão pública”, complementou Edson Querido.
O desenvolvimento é um conceito multidimensional: econômicos e social. “Os nossos estudos vêm mostrar como convergir os interesses de algo que aparece muito forte como, por exemplo, os conflitos das escalas de desenvolvimento (…) com os reflexos positivos de emprego e renda, mas também nos transitórios como o fluxo migratório que deixa uma área de expansão urbana ociosa”, informou a professora Monica Franchi.
“Quando se tem uma explosão demográfica como a que aconteceu neste Estado é natural que os problemas começam a acontecer, como no trânsito, saneamento básico, sobrecarga na saúde, educação. Esses são elementos que já começam a aparecer como fragilidade, vulnerabilidade”, complementou o professor Edson Querido.
“As cadeias produtivas em Rondônia não estão concatenadas, ou seja, não estão funcionando com sincronicidade e isso cria uns vazios. Muitas vezes têm como produzir aqui, trazer a manufatura leve, industrializar em alguns aspectos de uso e fica importando de outras regiões para cá sendo que é possível se desenvolver no Estado”, comentou Edson Querido.
Segundo observou o professor, muitas vezes ela já existe, mas pode não haver incentivo com investimentos pelo Poder Público que não enxerga e ela fica anacrônica. “A nossa ideia é fazer um diagnóstico para levantar esses pontos e dar um startarp para que alguém do Poder Público ou da iniciativa privada possa fazer disso uma nova oportunidade de negócios”.
Com os estudados realizados no Estado, há um diagnóstico preciso de ações que podem ser feitas pontualmente e isso é reflexo de lacunas no processo de desenvolvimento da nação. “Devemos usar a nossa ferramental acadêmico com os instrumentos de pesquisa para fazer diagnóstico para entender as particularidades de cada região para fazer isso pelo país e fazer com que sejam direcionadas políticas públicas”, orientou a professora Mônica Carniello.
A concentração forçada de pessoas numa área menor em um espaço físico em torno de uma grande cidade, já leva para uma segunda fase: a favelização. Isso já começa a aparecer aqui em Rondônia. “Quando implanta um modelo de crescimento e aparece isso, significa que em alguma coisa deu errado”, alerta o Dr Edson Querido.
De acordo com Monica Carniello, o papel da Universidade é, no eixo da pesquisa, pensar a sociedade. “Não temos o poder de Legislar e nem de Executar, mas temos um instrumental e a liberdade de pensamento que é característica do meio, de tencionar dados e diagnóstico, com o compromisso social e sem o viés político. Com esse acervo, a gente disponibiliza um conteúdo que vai ser norteador de decisões aos setores público e privado”.
Segundo os doutores, a proposta é pensar a região e instrumentalizar os docentes para que eles sejam agente de pensamentos, reflexão e multiplicarem o instrumental através de pesquisa. “A gente veio para capacitar pessoas para andarem com as próprias pernas, se isso ocorrer a nossa missão foi cumprida”, diz Monica.
“Estamos aqui para o olhar Rondônia com o olhar do rondoniense. Vamos ver o estado como deva-se ser olhado como por quem é nativo e mora aqui. Muitas vezes o cientista chega com o olhar de uma referência que não é essa do Estado. A gente pode balizar o que existe em termos de desenvolvimento e apresentar uma ferramenta. Aqui como lá tem pontos positivos que a gente pode evidenciar, negativos que podemos minimizar e oportunidades que podemos que se pode aproveitar no tempo e ameaças que a gente precisa eliminar”,finaliza o coordenador do mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté (Unital), Dr. Edson Querido.