A palavra “lockdown”, que há pouco mais de um ano era desconhecida por 99,9% das pessoas, hoje é figurinha repetida na boca de todo mundo. E, como toda figurinha repetida, geralmente não é o que precisamos para completar o álbum. Primeiro sistema cogitado em nível global para enfrentar o vírus, passou muito rápido a ter uma dupla função: servir como marcação de posição política. Quem é a favor, defende vidas, ouve a voz da ciência; quem é contra, flerta com o genocídio, merece o cancelamento e vai ser perseguido pela imprensa para ser exposto como exemplo, caso contraia o vírus.
Sinceramente? Já podemos ultrapassar isso.
Já estamos vivendo no meio da pandemia há mais de um ano. Muita coisa foi aprendida pelas pessoas que estão na linha de frente enfrentando os efeitos do vírus. Seja o pessoal da Medicina, que hoje já enfrenta a Covid com mais ferramentas que no ano passado; seja o pessoal ligado à economia, que aprendeu com o impacto do vírus nas nossas vidas.
O “pessoal da política” precisa seguir no mesmo compasso. Nesta semana, na Assembleia Legislativa, uma comissão temporária reuniu representantes do governo, políticos e da sociedade para debater as medidas restritivas estabelecidas nos decretos do governo no combate à pandemia. Isso é muito importante, não podemos deixar a guerra contra o vírus se tornar uma guerra política. Pois no meio de um tiroteio assim, quem fica correndo de um lado para o outro é o povo.
Esses debates são muito importantes, pois o novo fica obsoleto bem rápido quando há troca de ideias e desapego com opiniões. Temos fatos novos que precisam ser postos na mesa, como, por exemplo, o resultado de pesquisa da Secretaria Estadual de Saúde apontando o aumento da contaminação de pessoas da própria família; a presença de várias cepas diferentes do vírus; o aumento do fluxo de pessoas mais novas nas UTIs de Covid; e assim vai.
Talvez a gente precisasse começar a se questionar sobre, por exemplo, o melhor aproveitamento de tecnologias já existentes para direcionar o cerco ao vírus, que pode ser feito com isolamento, mas também com vacinação. Penso em outras perguntas, também, como: Já temos um perfil das pessoas contaminadas? Precisamos mudar o cronograma de vacinação? Basta abrir mais leitos, sem tomar outras medidas que sequer ainda pensamos? Como nos prepararemos para reduzir, a longo prazo, a nossa fragilidade perante o vírus, já que sabemos que a Covid não sumir, assim como centenas de outras doenças continuam nos afligindo há séculos?
Precisamos avançar no debate, sem medo de ousar, sem receio de cancelamento nas redes sociais. Enquanto estamos marcando passo, o vírus está criando mutações para se adaptar aos nossos esforços. Essa é uma grande diferença entre um vírus e o ser humano: ele não tem medo de apostar em novas ideias.