Me lembro a primeira vez que fui ao estádio com meu pai. Ele perdeu a carteira, passamos a tarde toda sem comer nada, bebemos apenas água com alguns trocados que estavam soltos pelo bolso dele. Ainda assim, foi uma das tardes mais legais da minha infância. Ver meu time do coração em sua casa, junto àquele que me ensinou a amá-lo. Foi perfeito.
“Em clássico é perigoso!” dizia meu pai e minha mãe reforçava. Na infância eu não conseguia entender o perigo que havia naquele momento tão mágico, mas, já adulto, “levei” meu pai para assistir um clássico e foi a minha vez de dizer pra ele “Fica perto de mim, é perigoso!”, ele estava eufórico após tantos anos sem ver nosso time do coração ao vivo e corria, cantava e pulava no meio da multidão que caminhava conosco para o estádio, mas estávamos no meio de uma torcida organizada e eu tinha ouvido alguns rumores de que a torcida rival havia armado uma emboscada para agredir torcedores do nosso lado.
São Paulo 1 x 0 Santos, na Arena Pantanal. De um lado a torcida tricolor entoava gritos enaltecendo nosso time e provocando o adversário, do outro, os alvinegros revidavam e também enalteciam sua bandeira. Não é à toa que os estádios muitas vezes são comparados aos coliseus e suas batalhas entre gladiadores e leões. Durante a partida, vi muitas agressões verbais e alguns focos de agressões físicas. Algo comum no ambiente do estádio de futebol.
Me chamou a atenção durante uma conversa com um outro torcedor tricolor, em que ele foi enfático em afirmar que “esse pessoal de torcida organizada não liga pro time, não, nem quer saber se está ganhando ou perdendo, eles vem pro estádio pra brigar e xingar os rivais!”.
É impressionante a capacidade do ser humano de erguer bandeiras cegamente, defendê-las com unhas e dentes, sem nenhuma autocrítica, agredir aquilo que julga como contrário. Transformar moinhos de vento em dragões. O lado D contra o lado E, assim está dividido o país nessa guerra de torcidas insana. Sim, eu tenho um lado, mas sempre me questiono se estou me deixando levar pela euforia do estádio moderno, chamado de rede social, e agredindo os “rivais” ou exaltando craques e heróis que não honram a camisa e se vendem na primeira oportunidade.
Em consequência dessa guerra de torcidas, o lado D elegeu um “mito” (e não falo aqui do mito das traves, Rogério Ceni) para se “livrar de um partido”, porém alguns posicionamentos deste representante extrapolam os limites do aceitável, repercutindo negativamente por todo o mundo, e sua torcida organizada continua a aplaudir.
As perguntas que mais tenho me feito desde a eleição são: os eleitores do “mito” o elegeram por desespero ou por concordar com suas ideias absurdas? Eles continuam defendendo essas ideias por cegueira ou por concordar com elas?
As redes sociais têm respondido essas perguntas com a mesma clareza que a observação no ambiente do estádio de futebol confirma a frase dita a mim pelo torcedor são paulino sobre as torcidas organizadas, alguns torcedores estão cegos na defesa de sua bandeira, mas a grande maioria é consciente do que está fazendo e o faz por concordar com a barbárie.
Hoje em dia, tenho vontade de dizer pro meu pai “não entra no Facebook, não, pai! É perigoso!”.