Estudo conduzido pelo Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia (CEPEM), a Fiocruz Paraná e a organização internacional sem fins lucrativos PATH, mostrou que a autotestagem em série entre indivíduos expostos a alguém com COVID-19 identificou o dobro de casos positivos em comparação ao rastreamento tradicional de contatos. A principal razão para o sucesso da intervenção foi um aumento de acesso aos autotestes. Enquanto o grupo controle não recebeu autotestes de COVID-19, o grupo intervenção teve acesso imediato a vários destes testes.
“Este estudo demonstra que quando tornamos a autotestagem amplamente acessível à população, ela é adotada com facilidade e eficácia. Nossas descobertas atestam a viabilidade da incorporação dos autotestes nos serviços de saúde pública como uma estratégia eficaz para a detecção precoce de casos e para aprimorar a saúde de toda a comunidade”, explicou Dhelio Pereira, pesquisador principal da pesquisa.
A pesquisa, financiada pela UNITAID, iniciou em 2022 e teve como objetivo avaliar a eficácia do rastreamento de contatos entre indivíduos que tiveram contato próximo com pessoas diagnosticadas com COVID-19. O estudo forneceu autotestes gratuitamente aos participantes para serem realizados diariamente em suas casas durante 10 dias.
Porto Velho e Curitiba foram as cidades escolhidas para sediar o estudo internacional devido à experiência do CEPEM com soluções de diagnóstico em COVID-19 e ao modelo de Curitiba como a primeira cidade do país a implementar o autoteste de HIV. O projeto também teve como objetivo explorar barreiras e facilitadores que poderiam afetar o acesso e a adesão ao autoteste, bem como gerar evidências e recursos que apoiem a sua implementação.
No total, 474 pessoas participaram do estudo. Dentre elas, 291 foram designadas para o grupo controle, em que os participantes foram testados uma vez com o teste profissional e deveriam apenas monitorar seus sintomas. As demais 183 pessoas foram designadas ao grupo de intervenção, em que os participantes recebiam autotestes para serem usados por 10 dias.
Resultados
Além de produzir evidências sobre a importância de garantir o acesso fácil aos autotestes nos serviços de saúde pública, o estudo também chegou a outras conclusões interessantes:
- A maioria dos resultados positivos ocorreu nos primeiros quatro dias de acompanhamento. Com base neste achado, a oferta de pelo menos dois testes para contatos próximos em um período de 5 dias poderia maximizar a detecção de casos.
- A maioria dos participantes nunca havia usado um autoteste antes de participar do estudo, e 97,8% deles completaram perfeitamente todas as etapas. O processo de realização do autoteste foi classificado como um pouco fácil ou muito fácil 99,6% das vezes.
- Os participantes com resultado positivo relataram terem tomado mais precauções contra a infecção do que aqueles com resultado negativo. Os participantes relataram ter ficado em casa em 67% do tempo em que estiveram positivos. Já os participantes que saíram de casa enquanto apresentavam um ou mais sintomas relataram usar máscara pelo menos 60% do tempo.
“A região Norte, com seu clima quente e úmido, é um ambiente propício ao surgimento de certas doenças, tornando este estudo um avanço significativo na melhoria da saúde da nossa comunidade. Com a pandemia, a gente vem observando uma transformação na abordagem do cuidado, tanto em relação ao autocuidado quanto ao cuidado com o outro que está ao nosso lado”, comentou Daniele Silva de Souza, Assessora Técnica do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Velho.
Dhelio reforça que as conclusões deste estudo têm implicações significativas para as estratégias de controle de futuras epidemias e pandemias e enfatiza a importância de facilitar o acesso à autotestagem para identificar um maior número de casos positivos. “Esta abordagem pode desempenhar um papel muito relevante na contenção do vírus e na proteção da população”.
Mais informações sobre o estudo e seus resultados neste link.
Sobre a UNITAID
A Unitaid é uma agência global de saúde empenhada em encontrar soluções inovadoras para prevenir, diagnosticar e tratar doenças de forma mais rápida, barata e eficaz, em países de baixa e média renda. O trabalho da Unitaid inclui iniciativas de financiamento para abordar doenças importantes como HIV/AIDS, malária e tuberculose. A agência está agora aplicando a sua experiência para enfrentar desafios no avanço de novas terapias e diagnósticos para a pandemia de COVID-19.
Sobre a PATH
A PATH é uma organização global sem fins lucrativos dedicada à equidade na saúde. Com mais de 40 anos de experiência em parcerias multissetoriais e expertise em ciência, economia, tecnologia, advocacy e dezenas de outras especialidades, a PATH desenvolve e amplia soluções inovadoras para os desafios de saúde mais urgentes do mundo.
Sobre o Instituto Carlos Chagas – Fiocruz Paraná
O Instituto Carlos Chagas se destaca como um centro de pesquisa e desenvolvimento tecnológico de excelência, atuando nas áreas de bioquímica, biologia celular e molecular e biotecnologia. Possui grande expertise na condução de pesquisas, sendo reconhecida nacional e internacionalmente, com sede em Curitiba, cidade que tem sido reconhecida pelo pioneirismo em implementar o autoteste de HIV no Brasil.
Sobre o CEPEM
O CEPEM é um centro de pesquisa clínica em Porto Velho que serve como centro de tratamento e testagem do SARS-CoV-2 em Rondônia. Os pesquisadores do CEPEM têm trabalhado em vários fluxos de pesquisa para entender melhor as soluções de diagnóstico e tratamento do SARS-CoV-2. O CEPEM também já serviu como sede clínica para estudos da COVID-19 e é responsável pela supervisão técnica e treinamento das equipes que atuam na atenção primária do município.