Missionários que trabalham com índios da etnia Yanomami dizem que falta cloroquina onde ela realmente é necessária: no combate à malária.
A foto publicada nesta segunda-feira (10) pelo jornal “Folha de S.Paulo” mostra uma menina yanomami de 8 anos, que aparece desnutrida por causa de complicações da malária, doença infecciosa transmitida por mosquitos e que pode levar à morte.
A criança está internada num hospital em Boa Vista, desde o dia 23 de abril. Ela está curada da malária, mas ainda em tratamento contra pneumonia, anemia e desnutrição crônica. A foto foi feita em uma das 360 aldeias da Terra Yanomami, que abriga cerca de 27 mil índios.
O missionário católico Carlos Zacquini, que trabalha há quatro décadas com os yanomamis, foi quem obteve a imagem:
“Essas aldeias estão abandonadas. Todas elas sem assistência. Não há equipes. A equipe é desfalcada de pessoas. Tem postos de saúde que estão fechados há meses na Terra Yanomami”.
Dario Kopenawa, uma liderança yanomami, diz que o caso da menina não é isolado:
“Todos os profissionais estão faltando para cuidar dos nossos parentes, por isso, no combate da malária, essa assistência não dá conta. Outras comunidades são fechadas por falta dos profissionais da Terra Yanomami. Esses pacotinhos, remédios não são suficientes, por isso tem o dobro de casos nos yanomamis”.
O missionário católico afirma que um dos medicamentos em falta é a cloroquina, que é indicada pelo Ministério da Saúde contra a malária.
“Cloroquina, o remédio para malária, estava contada, o recomentado é que o uso fosse muito restrito, em caso de necessidade. Não havia abundância. Parece que para outras coisas tem, mas para isso não”, disse o missionário.
Em 2014, foram quase três mil casos de malária entre os yanomami. Cinco anos depois, perto de 17 mil casos. Segundo a Fiocruz, 80% das crianças da etnia sofrem de desnutrição crônica.
Especialistas em saúde afirmam que a presença de garimpeiros na Terra Yanomami é o principal fator para a propagação da malária. Ao longo dos anos, lideranças indígenas vêm cobrando das autoridades uma fiscalização mais intensa contra o garimpo, mas nem a pandemia afastou os garimpeiros.
O Ministério da Saúde afirmou que há medicamentos suficientes para atender as necessidades da região; que sempre envia suprimentos extras para compor o estoque, quando há surtos de malária; que existe dificuldade para localizar alguns grupos indígenas que são nômades; e que no distrito Yanomami 75% da população receberam a primeira dose da vacina e 55% a segunda dose.