Desde a semana passada, a imprensa brasileira tem dado destaque à derrota do governo Lula no Congresso. O governo Federal tentava, por meio do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), arrecadar cerca de R$ 62 bilhões em dois anos, valor necessário para cumprir a meta fiscal de 2025. No entanto, a proposta foi anulada pela maioria dos congressistas, com 383 votos contrários e 98 favoráveis. No mesmo dia, o Senado aprovou o texto alternativo da Câmara, suspendendo a cobrança do IOF.

Hugo Motta e Davi Alcolumbre defenderam a ideia de que a suspensão do Projeto de Decreto Legislativo nº 214/2025 pouparia (o brasileiro de mais um tributo). Analistas econômicos e parte da imprensa veem nas ações dos parlamentares não só um ataque ao governo Lula, mas também um prejuízo para a população, que terá de arcar com as medidas tomadas sem considerar o bem comum. Essas medidas são, inclusive, consideradas frias e calculadas. Esses parlamentares são vistos como responsáveis por derrubar todos os projetos que beneficiariam a população necessitada do país.
Dede que isso aconteceu, os presidente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, vem sofrendo diversas manifestações contrarias aos posicionamentos. Um dos principais alvos é o presidente da Câmara Hugo Motta. Motta vem sendo taxado de trair o povo brasileiro. Pela Paraíba, a professor Josevânia declarou: “Quer aumento do número de deputados e de emendas parlamentares. Quer apenas cortar gastos com saúde e educação, cortando gastos exclusivamente dos programas sociais. Não se iludam, trabalhadores e classe média. Vocês é que continuarão pagando mais. Esse indivíduo está ao lado dos muito ricos e banqueiros. Farei questão de lembrar a todos os paraibanos dessas ações. Ninguém cai nessa conversa! E as emendas? Está bom, não é? Quer cortar? Não, não é? Acorda, Paraíba”.
A frase da paraibana é uma das mais emblemáticas, destacando uma certa incoerência nas ações dos parlamentares. Em 18 de junho, eles derrubaram vetos do Presidente Lula que impediam subsídios a alguns projetos de energia limpa. E mais uma vez, a medida dos congressistas resultou num aumento de 3,5% na conta de luz dos brasileiros. No Instagram, Motta tentou minimizar a derrubada do veto por eles: “O Estado tem de caminhar na mesma velocidade da sociedade. Por isso, é fundamental debater uma reforma estruturante pautada pela responsabilidade fiscal e pela eficiência no serviço público”.
A inconsistência entre as palavras escritas por Motta poucos minutos antes da votação que derrubou os vetos de Lula resultou em mais críticas. “Quanto o Congresso pretende cortar dos seus gastos? Esse corte afeta verbas que seriam usadas para beneficiar a população. Enquanto isso, aumentam o número de deputados e gastam bilhões em emendas com o nosso dinheiro. Acham que enganam alguém? O povo brasileiro cansou de sustentar esse Congresso caro e inútil”, enfatiza André R.
Contrariamente ao que afirmam os parlamentares que se dizem defensores dos direitos do povo, existem pautas que defendem suas aposentadorias. A Câmara, unindo-se ao Senado, aumentou o número de parlamentares de 513 para 531. Segundo o jornalista Vinícius Cassella, do G1, esse aumento terá um impacto de R$ 95 milhões anuais nos cofres públicos. Além disso, segundo o debate em torno do assunto, a estimativa é que os gastos ultrapassem R$ 380 milhões.
O indígena J. Karitiana, da Universidade Federal de Rondônia, considera a união do Legislativo contra medidas governamentais que, paradoxalmente, beneficiam e prejudicam simultaneamente os mais necessitados, uma afronta aos brasileiros. “O povo tem se visto refém de duas Casas que atuam em benefício dos ricos e dos próprios políticos, as verdadeiras elites do Congresso. Não há aumento salarial para o povo, mas o Congresso propõe até aposentadoria para os parlamentares. As ações do Congresso contra os projetos do governo federal, agora dirigidas contra o povo, eram medidas que incluíam o brasileiro. O Congresso isenta os ricos de pagarem impostos, mas o pobre é obrigado a pagar. Onde está a lógica? Nessa disputa, o povo já percebeu que a jogada do Congresso é contra o governo, contra o país e contra o próprio povo, que, pela primeira vez, se viu à mercê de um Congresso contaminado por parlamentares que agem contra os seus interesses”.
O descontentamento popular com os parlamentares, que parecem extrapolar seus direitos, vem ganhando força, com manifestações que utilizam slogans como “Congresso Inimigo do Povo”, “Congresso contra o Povo” e “Congresso contra o Brasil”, frases amplamente divulgadas nos perfis do presidente da Câmara e do Senado. Para a ambientalista da Associação Etnoambiental Kanidé, Neide Cardozo, o Congresso não está contra Lula, mas contra a população brasileira. Ela justifica: “O Congresso tem demonstrado oposição ao governo Lula, eleito por cerca de 60 milhões de brasileiros. No entanto, a percepção popular é de que o Congresso escolheu um lado: o dos ricos e dos empresários políticos que dominam o legislativo atual. Ao derrubar ações do governo Lula em benefício da população carente, o Congresso tornou-se, na opinião pública, um inimigo do povo”, diz.
Acreditando que a população não perceberia suas intenções, o Congresso tem provocado protestos na internet, com potencial para se espalhar para as ruas. A hashtag “Congresso inimigo do povo” (#CongressoInimigoDoPovo) se tornou viral. O presidente da Câmara, Hugo Motta, é um dos principais alvos; os internautas criticam suas publicações constantemente.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) alerta para a necessidade de atenção dos brasileiros, pois o Centrão busca transferir o ônus da crise para os mais pobres, isentando os ricos. Boulos classifica essa situação como pilantragem: “O governo Lula quer acabar com os privilégios dos mais ricos, mas o sistema financeiro, controlado pela Faria Lima, quer que os mais pobres paguem a conta. O povo brasileiro não pode aceitar essa pilantragem”