Uma transmissão ao vivo de entidades da indústria com o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi invadida na manhã desta quinta-feira. A sala virtual foi acessada por pessoas falando em inglês e supostamente em russo.
Os invasores exibiram vídeos pornográficos e músicas e gritaram, atrapalhando a fala do ministro. Um homem chegou a se masturbar na frente da câmera.
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A fala do ministro não foi interrompida porque Guedes estava presencialmente no evento, que era transmitido por meio da plataforma de reuniões on-line Zoom. Essa prática é chamada “zoombombing” — o ato de invadir uma chamada com o único objetivo de interrompê-la compartilhando conteúdos indevidos.
Depois de cerca de dois minutos, os invasores deixaram a sala da reunião.
O ministro falava durante o evento "Diálogos com a Indústria", realizado pela Coalizão Indústria, grupo que reúne entidades do setor.
Na sua apresentação, Guedes criticou a proposta de se fazer uma reforma tributária ampla, a que classificou como suicida, e disse que a proposta que criaria um fundo de compensação para possíveis perdas de arrecadação de estados e municípios saquearia meio trilhão da União.
Segundo o ministro, a reforma ampla é a ideal, mas não pode ser feita às custas da União e afirmou que a insistência dos estados na formação de um fundo de compensação de R$ 400 bilhões foi o que bloqueou o avanço da proposta.
Sistema complexo
A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de extinguir a comissão mista da reforma tributária significa, na prática, uma volta dos debates à estaca zero. A principal proposta é a unificação dos impostos. Mas entrar em um acordo sobre como ela será feita é tão complexo quanto o próprio sistema tributário brasileiro. Estados e municípios temem perder uma fatia de suas arrecadações e são muitos os impostos.
Emaranhado de impostos
O Brasil tem, pelo menos, cinco tributos embutidos nos preços de bens e serviços: três cobrados pela União (IPI, PIS e Cofins), um dos estados (ICMS) e um dos municípios (ISS). Só o ICMS tem 27 formatos diferentes, um para cada estado e o DF. Ou seja, para vender em outros estados, o empresário tem que pagar e conhecer os diferentes tributos.
Custo alto
Além da quantidade de tributos, o custo é alto. Um exemplo é a tributação geral de medicamentos, uma das maiores do mundo, em torno de 33%. Em países desenvolvidos é de cerca de 6%. Outro item essencial com carga tributária elevada, por exemplo, é o absorvente íntimo: 27% só de imposto.
Classificação
A classificação é outro problema recorrente. É perfume ou água de colônia? A alíquota da fórmula concentrada é 42%. Já a da fragrância mais leve, de 12%. “Uma grande diferença”, segundo o especialista em direito tributário e da FGV, Gabriel Quintanilha.
Burocracia sem fim
O Brasil é o país em que as empresas gastam o maior número de horas com a burocracia dos impostos, segundo um relatório do Banco Mundial que avalia 190 países. Uma empresa brasileira gasta, em média. 1.501 horas por ano cuidando de obrigações relacionadas a tributos. É cinco vezes a média gasta pelos países de América Latina e Caribe.
Efeito cascata
Esse nó de tantas informações e cobranças dificulta a vida e o caixa das empresas, além de facilitar erros. Segundo a Endeavor, 86% das empresas brasileiras apresentam algum tipo de irregularidade no pagamento de seus tributos. Estas lacunas muitas vezes são por desconhecimento das muitas regras. Mesmo assim, podem gerar multas e despesas altas.
Falha só na transmissão virtual
A Coalizão Indústria disse em nota que os perfis invasores "foram excluídos rapidamente", que a falha so ocorreu na transmissão para a imprensa e não foi transmitida para o evento presencialmente.
"A transmissão para o público não houve interferências e ocorreu normalmente. A Coalizão Indústria informa ainda que vai apurar os fatos e pede desculpas aos repórteres presentes na transmissão pelo inconveniente".