AntagonistaRO- No Brasil de 2025, há trabalhadores que ganham menos de dois salários mínimos por mês e, ainda assim, vivem sob a ilusão de que pertencem a uma elite. Um delírio de pertencimento que só serve aos verdadeiros privilegiados. Enquanto isso, quem recebe R$ 1.512 para trabalhar 44 horas semanais está sendo explorado. Não há como dourar essa realidade.
É assustador perceber que uma parcela da população considera “privilégio” conceder aumento real acima da inflação aos mais pobres. Isso não é privilégio, é o mínimo. O governo Lula, por meio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já isentou do Imposto de Renda os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos mensais, o que representa 68% dos trabalhadores formais do Brasil. E o plano é ampliar ainda mais essa justiça tributária: a proposta do governo é isentar também quem ganha até R$ 5 mil por mês, beneficiando mais de 10 milhões de pessoas. Trata-se de uma política concreta de alívio fiscal para quem mais precisa.
No entanto, mesmo entre os mais pobres, há quem critique essa ação como se fosse um favorecimento indevido. Essa distorção de percepção é resultado direto de anos de desinformação e discursos manipuladores que criminalizam qualquer tentativa de justiça social. É urgente resgatar o bom senso e compreender a realidade da luta de classes.
O sistema tributário brasileiro penaliza quem tem menos e protege quem tem mais. A classe média, que acredita estar “quase lá” por morar num condomínio financiado em 30 anos, com dois carros populares na garagem e filhos em escola particular, está mais próxima da vulnerabilidade do que da riqueza. Muitos vivem no limite do endividamento e da instabilidade, e mesmo assim se alinham a uma elite econômica que jamais os aceitará como iguais.
A verdade é dura, mas necessária: os mais pobres e a classe média são os que mais pagam impostos no Brasil. Enquanto isso, os super-ricos — banqueiros, acionistas e especuladores — acumulam fortunas por meio de lucros e dividendos isentos ou pouco tributados. Eles vivem de renda, não de trabalho. A Faria Lima prospera com a especulação, enquanto o povo rala para pagar o básico.
Defender a taxação dos super-ricos não é questão de inveja ou revanchismo. É justiça tributária. É reequilibrar uma balança que há muito tempo pende para um lado só. Mas o Congresso Nacional, capturado por interesses econômicos e lobbies poderosos, faz de tudo para impedir avanços significativos. Em vez de ser aliado do povo, muitas vezes age como seu inimigo, sabotando políticas públicas, travando reformas necessárias e blindando os interesses das grandes fortunas.
É hora de acordar. Entenda, trabalhador: você não é inimigo de quem está abaixo, mas está sendo enganado por quem está acima. Defender seus direitos, lutar por melhores condições e cobrar justiça tributária não é radicalismo. É consciência de classe. É sobrevivência.
Samuel Costa é rondoniense, professor, advogado, especialista em Ciência Política e escreve semanalmente para sites de noticias e jornais