Um estudo recente da Universidade de Manchester, no Reino Unido, tem circulado nas redes sociais, gerando especulações sobre uma possível pandemia causada por fungos, similar ao enredo da série “The Last of Us”. Contudo, a pesquisa e especialistas esclarecem que essa interpretação é uma distorção da realidade.
O que o estudo realmente diz
A pesquisa, realizada por especialistas em fungos das universidades de Manchester, Escola de Medicina Tropical de Liverpool e do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, foi divulgada no início de maio. Seu objetivo principal é alertar para o impacto das mudanças climáticas na adaptação dos fungos, o que pode levar a um aumento de doenças em humanos e na agricultura.
O estudo utilizou um modelo matemático para prever como três espécies do fungo Aspergillus, que infecta humanos e plantas, se comportariam com as projeções de temperatura até 2100. A análise indicou uma mudança geográfica na prevalência desses fungos, com potencial aumento em regiões do Norte do globo (Ásia e Europa), e não uma pandemia global. Por exemplo, na Austrália, uma das espécies de Aspergillus que hoje afeta 5 milhões de pessoas, poderia atingir 16 milhões no cenário climático mais extremo.
Ficção vs. Realidade
É importante diferenciar o que é ficção e o que é realidade:
Ficção na série e nas redes: O fungo Cordyceps da série “The Last of Us” não pode infectar humanos, controlar seus corpos ou causar uma pandemia global. O estudo mencionado não faz qualquer relação com o Cordyceps ou a série.
Realidade no estudo: A pesquisa aponta que, com as temperaturas mais altas decorrentes das mudanças climáticas, fungos patógenos podem expandir suas áreas geográficas, aumentando o risco de infecções em novas regiões. Isso ressalta a necessidade de mais pesquisas e desenvolvimento de tratamentos.
O alerta da ciência
Embora o estudo não preveja uma pandemia iminente, ele serve como um alerta crucial para a saúde pública. Fungos já são responsáveis por cerca de 6,5 milhões de infecções e 3,8 milhões de mortes anualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), especialmente em pessoas com sistema imunológico comprometido. Além disso, estima-se que 20% da produção global de alimentos seja perdida devido a fungos.
Especialistas consultados reforçam que a pesquisa é de grande relevância, mesmo tendo sido distorcida online. Gustavo Henrique Goldman, professor da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), destaca que o aumento da temperatura global pode desorganizar ecossistemas e levar à proliferação de fungos em locais antes não afetados, um risco a longo prazo que exige mais financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tratamentos.
Daniel Dahis, PhD em biotecnologia, aponta que o estudo é um “desenho de um cenário futuro” e serve como uma hipótese do que pode acontecer se não houver intervenção. Ele também ressalta a importância da revisão por pares, processo fundamental na ciência para validar a metodologia e os resultados de uma pesquisa.
Em suma, a ciência alerta para os potenciais riscos de doenças fúngicas em um cenário de mudanças climáticas, mas sem as conotações dramáticas de uma pandemia global como a retratada na ficção. A pesquisa visa promover a conscientização e a preparação para futuros desafios de saúde.