Como surgiu o Prêmio Nobel?
Conhecido como um grande químico, Alfred Nobel fez fortuna ainda no século XIX, levando sua invenção da nitroglicerina, da dinamite e de um detonador mundo afora para serem usadas em mineração e construções. Alfred Nobel foi inventor, engenheiro, químico e empresário sueco, nascido em 21 de outubro de 1833 na cidade de Estocolmo, capital da Suécia.
Após sua morte, em 10 de dezembro de 1896, vítima de um derrame cerebral, anos mais tarde é revelado em seu testamento que Alfred havia destinado 94% da sua fortuna para premiar, anualmente, “a quem tiver feito a descoberta mais importante” nos campos da física, química, medicina, literatura e para promover a paz.
Em 1901, o Prêmio Nobel foi criado. A cerimônia de entrega das premiações acontece sempre no dia 10 de dezembro, data do aniversário de sua morte.
As premiações acontecem anualmente em Estocolmo, na Suécia. Entre as personalidades que já venceram o Nobel da Paz estão Martin Luther King Jr., Malala Yousafzai e Nelson Mandela.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha recebeu o Nobel da Paz três vezes (em 1917, 1944 e 1963), e o comissariado das Nações Unidas para os refugiados recebeu o prêmio duas vezes (em 1954 e 1969).
A seguir, listamos os nomes de alguns brasileiros que foram indicados para o prêmio, mas até o presente momento, nenhum conquistou a tão sonhada honraria.
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1909 – Sebastião de Magalhães Lima: fundador do jornal português O Século, fez parte do Gabinete Internacional Permanente para a Paz. Quem ganhou esse ano foi o belga Auguste Beernaert, membro do Tribunal Permanente de Arbitragem, e o parlamentar francês Estournelles de Constant.
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1911 – Barão do Rio Branco: advogado, diplomata e historiador. Participou de diversas negociações envolvendo as fronteiras brasileiras. Quem ganhou esse ano foram o holandês Tobias Asser e o austríaco Alfred Fried.
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1916 – Érico Coelho: médico, jornalista, professor, político e senador. Durante toda a sua vida como parlamentar e em sua atuação jornalística. O prêmio não foi atribuído nesse ano.
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1924 – Nesse ano tivemos duas indicações, sendo Raimundo Teixeira Mendes, filósofo e matemático brasileiro, autor da bandeira nacional republicana. Defendeu a abolição da escravatura, a proclamação da república, a separação entre a Igreja e o Estado e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a mais antiga e tradicional entidade de fomento da pesquisa e preservação histórico-geográfica, cultural e de ciências sociais do Brasil. O prêmio não foi atribuído nesse ano.
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1935 e 1937–1938 – Afrânio de Melo Franco: diplomata e político. Como ministro das Relações Exteriores do Brasil, atuou proeminentemente para a resolução da Guerra do Chaco, entre Bolívia e Paraguai, e dos conflitos do porto de Leticia, entre Peru e Colômbia, em 1932. Quem ganhou nesses anos foram o alemão Carl von Ossietzky, o britânico Robert Cecil, além do Comitê Internacional Nansen para os Refugiados.
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1948 – Osvaldo Aranha: presidiu a II Assembleia Geral da ONU, que votou para a partição da Palestina, em 1947, e culminou na criação do Estado de Israel. Aranha foi indicado por seus esforços pela paz quando servia como embaixador do Brasil nos EUA e por seu trabalho como presidente da ONU. O prêmio não foi atribuído nesse ano.
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1953, 1963–1965 e 1970 – Josué de Castro: destacou-se no cenário brasileiro e internacional não só pelos seus trabalhos ecológicos sobre o problema da fome no mundo. Quem ganhou nesses anos foram os americanos George Marshall e Martin Luther King Jr., o Movimento Internacional da Cruz Vermelha, a UNICEF e o sueco Norman Borlaug.
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1953–1954 – Raul Fernandes: advogado, político e diplomata. Após o término da Primeira Guerra Mundial, foi nomeado Delegado Plenipotenciário à Conferência de Paz de Paris (1919), sendo um dos signatários brasileiros do Tratado de Versalhes, e representante do Brasil na Comissão de Reparações, de 1919 a 1920. Quem ganhou nesse ano foram o americano George Marshall e o comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
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1953 e 1957 – Marechal Rondon: contribuiu para a interiorização pacífica e aproximação com os indígenas brasileiros. Chefiou, em 1914, uma excursão pela Amazônia, na companhia do presidente Theodore Roosevelt, que quase custou a vida deste último. Roosevelt tinha Rondon na mais alta conta e parece ter sido por sua influência a indicação de Rondon para o Nobel, por uma entidade militar norte-americana. A indicação foi endossada por Albert Einstein, em carta ao comitê do Nobel. Quem ganhou nesses anos foram o americano George Marshall e o canadense Lester B. Pearson.
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1970 e 1971 – Dom Hélder Câmara: foi um bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife. Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e defensor dos direitos humanos. Quem ganhou nesses anos foram o americano Norman Borlaug e o alemão Willy Brandt.
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1971 e 1975 – Irmãos Villas-Boas (Orlando e Cláudio): indigenistas e sertanistas. Junto com seu irmão Leonardo Villas-Boas (já falecido na época), fizeram o reconhecimento de numerosos acidentes geográficos do Brasil central e defenderam as populações indígenas. Quem ganhou nesses anos foram o alemão Willy Brandt e o soviético Andrei Sakharov.
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1981 e 1982 – Chico Xavier: médium filantropo. Tornou-se um ícone do espiritismo. Psicografou mais de 450 livros e foi considerado o maior líder espiritual no Brasil. Quem ganhou nesses anos foram a organização sueca UNHCR, o suíço Alva Myrdal e o mexicano Alfonso Robles.
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1988 – Santa Irmã Dulce: considerada o “Anjo Bom da Bahia”, realizou diversos trabalhos de caridade e assistência às pessoas mais pobres e necessitadas. Foi canonizada com o título de Santa Dulce dos Pobres em 2019, pelo Papa Francisco. Quem ganhou nesse ano foi a organização americana FM-ONU.
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1989 – Dom Paulo Evaristo Arns: conhecido como o “Cardeal da Esperança”. Durante dez anos, deu assistência à população carente de Petrópolis (RJ). Criou a Comissão Brasileira Justiça e Paz, da Diocese de São Paulo, para denunciar os abusos do regime militar e criou a Pastoral da Criança, com a irmã Zilda Arns. Quem ganhou nesse ano foi o indiano Tenzin Gyatso.
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1994 – Herbert de Souza: sociólogo brasileiro, realizou diversas atividades em defesa dos direitos humanos. Foi o fundador do Instituto Brasileiro de Análise Social e Econômica (IBASE) e realizou ações contra a fome e a miséria. Quem ganhou nesse ano foram os israelenses Yitzhak Rabin e Shimon Peres.
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2006 – Zilda Arns: médica pediatra e sanitarista. Foi fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa. Quem recebeu nesse ano foi o conselheiro-chefe de Bangladesh Muhammad Yunus e o Grameen Bank.
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2017 – Maria da Penha: ícone da luta contra a violência doméstica. No início da década de 1980, sofreu duas tentativas de homicídio do então marido e lutou por 19 anos na Justiça até vê-lo preso. Inspirou a criação da Lei nº 11.340/2006 – a Lei Maria da Penha, de combate à violência doméstica. Quem recebeu nesse ano foi a organização suíça ICAN.
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2018 – Luiz Gabriel Tiago: escritor e palestrante, conhecido como “Senhor Gentileza”. Aos 39 anos, foi indicado por sua atuação no “Pontinho de Luz”, sua empresa social, sediada em Niterói, que movimenta uma rede de solidariedade de 35 mil pessoas. Quem ganhou nesse ano foi a ex-escrava sexual do grupo extremista Estado Islâmico Nadia Murad e o médico ginecologista Denis Mukwege, por seus esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra e conflito armado.
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2021 – Alysson Paulinelli: foi ministro da Agricultura no governo de Ernesto Geisel, quando modernizou a Embrapa e promoveu a ocupação econômica do cerrado. Quem ganhou nesse ano foram a filipina Maria Ressa e o russo Dmitry Muratov.
Rondon e a indicação ao Nobel
O criador da Teoria da Relatividade, Albert Einstein, não chegou a conhecer pessoalmente Rondon, mas bastaram relatos calorosos sobre seu trabalho, quando visitou o Rio de Janeiro, para que ele subitamente reconhecesse o caráter vultoso do Marechal Cândido Rondon, que nasceu em Mimoso, em 1865, um herói mato-grossense e uma das personalidades mais importantes da história do Brasil.
Saindo da cidade do Rio de Janeiro a caminho de Berlim, ainda dentro do navio, Einstein escreveu ao presidente do comitê do Nobel da Paz, indicando Rondon ao prêmio por seus feitos na defesa e proteção dos índios. Vale lembrar que a carta foi escrita em 1925, mas somente depois de 30 anos é que o nome de Rondon foi indicado pelo Brasil para concorrer ao prêmio. Nesse ano, os vencedores foram o americano George Marshall e o canadense Lester B. Pearson. O documento original que revela essa comunicação está reproduzido no livro Cartas Brasileiras, organizado pelo escritor e jornalista Sérgio Rodrigues.
O registro deixado pelo físico Albert Einstein foi garimpado no arquivo da Universidade de Jerusalém pela pesquisadora Heloisa Fischer, mulher do escritor, que colaborou com o estudo. A carta original está reproduzida no livro e, assim como as outras 80 que integram a publicação, traz um pequeno texto contextualizando a história. Segue cópia da carta abaixo:
Carta escrita por Einstein em 1925 revela indicação de Rondon ao Nobel da Paz
Naquele ano de 1925, o prêmio que foi idealizado por Alfred Nobel para reconhecer as contribuições para “o entendimento entre os povos e a eliminação ou a redução de armamentos, assim como formar ou impulsionar convenções de paz”, foi entregue a Austen Chamberlain, por reduzir as tensões entre a França e a Alemanha após a 1ª Guerra Mundial, e a Charles Gates Dawes, por redigir o relatório que definiu as reparações da Alemanha após a 1ª Guerra.
No livro Os Diários de Viagem de Albert Einstein: América do Sul 1925, o texto nº 29, escrito por Zeev Rosen Kranz, Einstein encaminha seu pedido ao presidente do Comitê Nobel na Noruega, dizendo o seguinte:
[A bordo do Cap. Norte] 22 de maio de 1925
Estimado senhor,Tomo a liberdade de chamar sua atenção para as atividades do general Rondon, no Rio de Janeiro, porque, durante minha visita ao Brasil, cheguei à conclusão de que esse homem seria altamente digno do Prêmio Nobel da Paz. Sua obra consiste na incorporação das tribos indígenas à humanidade civilizada, sem o uso de armas ou de coerção de qualquer natureza. Minhas informações derivam dos professores da Universidade Politécnica do Rio de Janeiro, que falaram muito calorosamente desse homem e de seu trabalho. Também vi algumas coisas registradas em filme. Não conheci o general Rondon pessoalmente.
Posso fornecer mais detalhes, se necessário, mas preferiria que o senhor obtivesse essas informações diretamente, talvez através de seu enviado norueguês.
Muito respeitosamente,
Prof. Dr. A. Einstein
Após ser indicado por 62 vezes, Einstein só viria a receber o Nobel em 1922, mas não pela Teoria da Relatividade, e sim por uma descoberta menos revolucionária, mas também com grandes implicações científicas: o efeito fotoelétrico.
É preciso ressaltar que, até o presente momento, nenhum brasileiro foi laureado com o prêmio. O Prêmio Nobel é concedido a personalidades vivas que tiveram êxito relevante no progresso do conhecimento nos campos científico e humanístico. A categoria da Paz já foi entregue a 141 homenageados entre 1901 e 2023 — 111 indivíduos e 30 organizações.