Os números são reais e fazem parte de um levantamento criterioso apresentado no Atlas da Violência de 2025. O Brasil, em apenas onze anos, viu o assassinato de 47.463 mulheres. O registro cruel dessa face triste e desoladora de um país cada vez mais violento para as mulheres foi apresentado no Atlas da Violência deste ano, divulgado neste mês de maio. “Apenas em 2023, cerca de 3.903 mulheres foram vítimas de homicídio, o que equivale a uma taxa de 3,5 mulheres por grupo de 100 mil habitantes do sexo feminino”, informa.

O documento, criado em parceria entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), traz uma série de estudos em diversas áreas. No documento, a realidade se confirma diante de um patamar que ultrapassa as 47 mil mortes por homicídio em onze anos, o que equivale a 13 mortes por dia.
Ainda segundo o estudo, “em 2023, a taxa de homicídio estimado por 100 mil habitantes do sexo feminino foi de 4.1, ao passo que a taxa de homicídios registrados foi de 3,5. Ou seja, estimamos que a taxa de homicídios de mulheres é 17,1% maior do que a calculada com base nos registros oficiais em que a causa do óbito era definida. Em números absolutos, enquanto em 2023 houve 3.903 homicídios femininos registrados, os estimados somariam 4.492, isto é, 589 mortes a mais”.
A Região Norte, com seus sete estados, contribui para essa triste estatística. Os dados revelam que, entre 2013 e 2023, o Pará (2.697), o Amazonas (1.227), Rondônia (599), o Tocantins (423), Roraima (344), o Acre (291) e o Amapá (207) somaram 5.788 assassinatos de mulheres. Isso coloca o Pará, o Amazonas e Rondônia, respectivamente, na lista dos três primeiros em crimes de homicídio contra mulheres.
“Chamamos a atenção para a diferença nas taxas de homicídios femininos registrados nas diferentes Unidades da Federação. Em 2023, as maiores taxas foram encontradas em estados da região amazônica, com taxa de 10,4 por 100 mil mulheres em Roraima, e 5,9 por 100 mil no Amazonas e em Rondônia”, explica.
O estudo também revela que o perfil. “É interessante notar o perfil étnico-racial dessas mulheres, uma vez que a população indígena é bastante representativa na região amazônica. Entretanto, as características étnico-raciais da mortalidade nesses estados podem ser imprecisas: o Atlas da Violência vem chamando a atenção para o fato de que as notificações de mortalidade indígena, por não se basearem em autodeclaração, tendem a se perder na categoria “parda”. Em Roraima, que registrou 31 52 vítimas, 12 delas são indígenas e 15 são pardas; no Amazonas, são 3 indígenas e 104 pardas, de um total de 122 vítimas. Já Rondônia não registrou nenhuma morte de mulher indígena dentre as 54, embora a maioria (36) seja parda. Ou seja, é possível que o assassinato de mulheres indígenas esteja subnotificado”.
É importante mencionar que durante os anos do governo Bolsonaro, o número de homicídios de mulheres em Rondônia aumentou, tendo seu maior pico em 2022 com 65 assassinatos.