A recente e polêmica eutanásia do cão Jacke, da raça chow-chow, após atacar sua tutora em Rondônia, reacendeu discussões sobre convivência segura entre cães e humanos. Especialistas apontam que comportamentos agressivos dificilmente surgem sem aviso e, muitas vezes, são resultado de falhas evitáveis por parte dos tutores.
Segundo profissionais da área, medidas como socializar o animal desde filhote, promover rotinas que respeitem os instintos caninos, compreender sinais de dor e investir em treinamento comportamental são cruciais para manter uma convivência harmoniosa — evitando não apenas riscos físicos, mas também desgastes emocionais para o animal e a família.
1. Socialização é essencial desde cedo
A veterinária comportamental Marcela Barbieri defende que, para um cão ser emocionalmente equilibrado, ele precisa viver como tal. “Cães precisam de estímulos naturais: passeios, interação com outros cães, liberdade para farejar e brincar. É isso que os torna sociáveis e saudáveis.”
Mesmo antes da conclusão do esquema vacinal, os tutores podem iniciar o processo de socialização com segurança, como passeios breves ou exposição a novos ambientes usando carrinhos próprios, quando necessário. O que não se recomenda, segundo ela, é isolar um animal saudável por medo de sujeira ou conveniência.
2. Treinar é educar, não punir
Para a adestradora Daniela Prado, muitos episódios de agressividade são fruto de falhas na comunicação entre cão e tutor. O adestramento, nesse contexto, cria uma linguagem comum e estabelece regras claras, transmitindo segurança ao animal.
Ela explica que um ciclo básico de aprendizado leva cerca de seis semanas, com mais seis semanas para a consolidação dos hábitos. Idealmente, o processo deve ser contínuo e ajustado à medida que o cão envelhece ou muda de ambiente.
“Treinar um cachorro é como ensinar alguém a ler — exige dedicação e prática ao longo da vida”, afirma.
3. Mudanças de comportamento podem indicar dor
Caso um cão anteriormente dócil passe a rosnar, evitar contato ou morder, o primeiro passo é investigar possíveis causas físicas. “A dor é um gatilho frequente para comportamentos agressivos”, afirma Barbieri.
Nestes casos, uma avaliação clínica deve anteceder qualquer tentativa de adestramento ou mudança de rotina.
4. Raça não define personalidade
Embora algumas raças apresentem características comuns, como alta energia ou menor tolerância a estranhos, o comportamento de um cão não deve ser determinado apenas por sua aparência. Especialistas reforçam que todos os cães precisam de estímulos físicos, mentais e sociais adequados, independentemente da raça.
5. Sinais de alerta que antecedem ataques
Antes de morder, muitos cães emitem sinais sutis de desconforto. Entre eles:
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Rabo rígido com movimentos laterais
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Lambidas nos lábios
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Olhos arregalados com parte branca visível
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Bocejos frequentes
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Pelos eriçados
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Cabeça abaixada ou olhar desviado
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Piscar lento
Observar e respeitar esses sinais pode prevenir situações graves.
6. O bem-estar do cão impacta diretamente o tutor
Uma convivência harmoniosa e equilibrada não só protege a saúde física e emocional do animal, como também promove benefícios psicológicos aos humanos. “Já vi idosos voltarem a caminhar, crianças com dificuldades de socialização melhorarem com o apoio de cães bem ajustados”, diz Barbieri.
Para que essa troca seja positiva, o tutor precisa deixar de tratar o animal como um enfeite ou brinquedo e começar a enxergá-lo como um ser vivo com necessidades próprias — físicas, emocionais e sociais.