Pesquisadores criaram um antídoto inédito contra venenos de cobra com base nos anticorpos de um homem norte-americano que foi picado intencionalmente por mais de 200 serpentes ao longo de vários anos. Tim Friede, morador do estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, se expôs de forma voluntária a venenos de espécies altamente letais, como mambas e najas, na tentativa de desenvolver resistência por conta própria, sem acompanhamento médico.
O organismo de Friede passou a produzir anticorpos após repetidas exposições ao veneno. Cientistas analisaram amostras do seu sangue e identificaram duas moléculas capazes de neutralizar toxinas de diferentes espécies de cobras. Em testes laboratoriais com camundongos, os anticorpos mostraram eficácia contra o veneno de elapídeos, grupo que inclui serpentes como najas, cobras-corais e mambas.
Os resultados, publicados na revista científica iScience, são considerados promissores. Atualmente, os antivenenos existentes atuam de forma específica para cada tipo de serpente, o que limita a resposta médica em casos de picadas por espécies diversas ou em regiões com baixa estrutura de saúde.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 110 mil pessoas morrem por ano em decorrência de picadas de cobras, especialmente em áreas rurais. A descoberta reacende a possibilidade de um antídoto universal, embora a pesquisa ainda esteja em estágio inicial e não tenha mostrado eficácia contra venenos de víboras, como cascavéis ou jararacas.
Apesar das limitações, os cientistas veem a experiência incomum de Friede como um possível caminho para avanços no tratamento de acidentes com serpentes.