Para o estudante da Universidade Federal de Rondônia, Anderfábio, ser pedestre na zona sul de Porto Velho, em Rondônia, é um desafio e, além disso, perigoso. “Sim, um desafio, em que ficamos entre a cruz e a espada.”
Próximo a uma faixa de pedestres, localizada na Rua Geraldo Siqueira com a Rua Aroeira, o estudante se prepara para uma tarefa que deveria ser simples: fazer com que os veículos parassem ao anunciar que pretende atravessar a pista. “Vamos lá, vamos tentar. Não sei se vai dar certo”, brinca.
Mas, na maioria das faixas de pedestres localizadas nesse trecho da segunda e mais populosa região de Porto Velho, a realidade é bem diferente. “Não é nada fácil ser pedestre na zona sul de Porto Velho; afinal, o coração bate até mais rápido quando surge a necessidade de fazer o cruzamento das vicinais. Dificilmente um motorista para na faixa de sinalização para o pedestre, mesmo sabendo que existe essa prioridade por parte de um transeunte”, lamenta ele.
A reportagem do site News Rondônia comprovou de perto a realidade do morador, que faz o percurso duas vezes ao dia para ir e voltar da universidade. Por volta das 18h de uma sexta-feira, fizemos o trajeto que ele costuma fazer. Na faixa mencionada, ficamos cerca de um minuto parados. Vimos os motoristas passando de um lado para o outro. Nesse intervalo, tentamos nos fazer presentes ali, mas, infelizmente, foi em vão. E quando conseguimos atravessar, foi porque mudamos a tática e fomos obrigados a nos afastar da faixa se quiséssemos fazer a travessia.
“Todos os dias eu vivo esse calvário. Como quase ninguém faz essa gentileza, é preciso tomar o caminho pelas vias alternativas, olhar para um lado e para o outro com muito cuidado e correr; do contrário, a pessoa fica plantada ao lado de uma placa que anuncia a passagem de pedestres, mas infelizmente poucos param”, lamenta.
Observamos que as faixas de pedestres da região receberam nova pintura; hoje estão mais visíveis tanto para pedestres quanto para motoristas. É lei e está no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que expressa, em seu artigo 70, que o motorista tem a obrigação de dar prioridade ao pedestre para cruzar a faixa, mesmo que o semáforo esteja verde para os veículos.
“Seria excelente se os motoristas tivessem consciência e parassem quando observassem uma pessoa na faixa. Além de educado e respeitoso, isso influenciaria o próximo que vem logo atrás e que veria essa ação.”
Distante dali, outro problema recai agora sobre os semáforos da Avenida Campos Sales com a Avenida Jatuarana. Neste local, as faixas de pedestres existem, mas atravessá-las é outro suplício. Normalmente, quando uma ou duas faixas ficam liberadas para os carros, as demais tornam-se inviáveis para a passagem de quem quer que seja, já que os semáforos estão abertos.
Perguntamos para a inteligência artificial a viabilidade desses semáforos, e o diagnóstico trouxe exatamente o que esperávamos. Para a IA, “os semáforos não fornecem tempo suficiente para a travessia de pedestres, especialmente em cruzamentos com fluxo intenso de veículos ou para pessoas com dificuldades de locomoção. Isso pode tornar a travessia perigosa e, em alguns casos, levar a atropelamentos”.
Além disso, segundo o Portal do Trânsito, “a Lei 10.098/00 determina que semáforos em vias com alto fluxo de veículos e risco para pedestres devem ter sinais sonoros ou mecanismos para auxiliar pessoas com deficiência visual”.
Quem faz a travessia questiona esse tipo de sinalização na capital, que, inclusive, ao que tudo indica, parece não enxergar o pedestre como prioridade. “Passo por aqui todos os dias, e todos os dias é algo atormentador ter que fazer essa travessia. No ano passado, quase fui atingido por uma moto quando precisei recuar ao ficar preso entre os carros tentando atravessar da Campos Sales para a Jatuarana”, relata o estudante Afonso.
Diante do problema, os moradores pedem que a Secretaria Municipal de Trânsito (Semtram) encontre uma solução para esse impasse entre trânsito e pedestres, que pode ocasionar acidentes, inclusive com vítimas fatais. “O órgão precisa enxergar e buscar uma solução viável também para os pedestres. Sugiro que, nesses casos de semáforos, a via permaneça fechada por pelo menos 15 segundos para que quem estiver na faixa possa atravessá-la”, finaliza.